A Estrela do Norte 1864

---= ~ ESTBELLA. DO NORTE. cada silvo do vento nas fundas quebra– das da ,montanha resoava-lhe aos ouvi– dos como a grita d'uma. multidão empe– penhada em o perseguir; cada arvore que se mexia, cada ramo que se agitava, fa– ziam-lhe.@elfeito de uma espada ou de um pau que 'lhe descarregavam sobre a cabeça. "E não se atrevia a olhar para traz nem a parar ; mas corria a ponto de per– der a respiração. Chegou deste modo ao sitio que descre– vemos no começo desta historia, alli onde um ligeiro declive conduzia dn estrada para o carreiro que debruava o precipício. Lançou-se sobre esta rampa, correndo sempre. Uma luz pallida e duvidosa começnva a despertar, quando viu , naquelle mesmo sitio, em pé diante delle, urna figura com os olhos esgasiados, com os cabellos e os vestidos soltos ao ven to , immovel como ·o rochedo, sobre o ·qual havia ficado sus– pensa. Parou n'uma gran de convulsão. Vie– ram-lhe à lembrança as palavras da es– criptura, que outr'ora o tinham ate,-no- 1·isado n ·um sermão de um eloquente pré– gador : Fiat via illorum tenebrcc et lubricum, et Angelus Domini perseqttens eos, que o seu caminho seja coberto de trévas, e escor– regacU,o, e que o Anjo do Senhor os dete– nha ( Ps. xxxrv. ). Lembrou-se de Balaão deti do por um anjo vingador no e~treito caminho que seguia. Parecia- lhe que era a mesma sentença qÚe o esperava 11esta perigosa passagem. 1\fas o terror do 'que elle tinha deixado após ella continuava·a perseguil-o, e por isso determinara-&e a afi'rontar todos os perigos que se lhe apresentassem diante, .até conseguir chegar á casa. Arrojou-se pai s SQbre essa pavorosa figura qhc lhe tomava o caminho , e como este objecto se não movia, aproximou-se dellc mais ain– da : o objecto não se moveu. Pedro então olhou attentamente para esta figuf'l com horr,or , e ao mesmo tem– po com anciedade - era sua_ mulher 1 Estava alli em pé, como pn va~a d? sen– timento e da palavra mesmo a, beira ~o precipiclo, tendo os olh os fi~os 1~ em bai– xo no abysmo. Ella não o via, nao se per– cebia sequer da sua presença; e mesmo ,quando lhe tomou do braço, quando chamou por seu nome, e lhe disse quem -era, não se voltou para elle, nem se me– ·;i.:eu ; - tinha os olhos pregados na mes– ma direcção. - Anna l exclamou elle, distrahido um póuco de seus terrores por esta nova dôr , .A nmi,, parn gucm estás tu a olhar !1 O que h~ lá em baixo que preoccupa a esse pon– to a tua vista e o teu espirito? Elia não respondia, mas indicava com a mão um ponto branco no fundo do abysmo. - O que é aquillo, perguntou elle ain– da ; uma pedra branca , alguma oveiha no iundo do valle ? - Sim, replicou ella, o foram as suas primeiras palavras, sim, o nosso cordei– ro .. , . Maria! - Que ! exclamou o },)Obre homem, o que lhe aconteceu? A estas palavras a malaventurada mãi pareceu voltar a si, virou-se para elle, e com um ar sereno lhe diz : - Pedro, esqueceste-vos certamente que esta noite •é ·o septimo anniversario da milagrosa cura de nossa querida filha . Iamos esta madrugada caminho do nos– so sanctuario, para ahi orar um momen– to em silencio, á tão querida luz da lam– pada, ante!\ que Maria deixasse e seu ves– tido branco. Ella caminhava dian te p.e mim ligeira, alegre, e com firme espe– rança, q11ando do repente perdemos a luz da lampada que nos guiava. .Julgando então naturalmente ( como eu o teria feito se tivesse sido a primeira) que era tem– po de vol:tar, voltou e despenhou-se. Dei apenas um grito e cahi sem sentidos. Pedro parecia-lhe sentir que lhe vara– vam o coração com uma espada, e com uma voz 1ug 1 ubre exclamou : - Fui -eu, eii que esta noite matei a mi– nha filha. Foi quando apaguei a lampa– da .... E antes ~Jue sua mulher p~ esse detel-o, atirou comsigo ao precipício. , Agarrando-se aos fracos arbustos que rebentam nas fendas dos rochedos, dei– xou-se escorregar por elles abaixo por um caminho que nem me!mo os ousados ca– çadores se atreveriam nunca a passar. Grandes pedregulhos se lhe de prendiam debaixo dos pés, e rolav-am atraz delle cahiud0 no fundo com um estrondo h or~ rível; os arbustos estalavam debaixo do se-:.i. peso, e ensanguentavam-lhe as mãos apezar disso continuou seu caminho in~ QUietando-se pouco com a idéa de se ferir e se ra~gar; ml_guns minutos depois, es– tava a,1oelhado Juncto do obj ec to que sua ulher lhe havia indicado: ~ra º. corpo de sua filh es tendido no chao e 1mmovel como se dormira n'um fôfo colchão de pennas : não tinha um membro quebrado · a cara nem sequer uma arranhadura ' nem os ves tidos o mais pequeno ra;gão; at6 a_ grinalda que levaya para otferecer á Virgem es- 1:1 va ainda in tacta em uma de sua .,, /

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