A Estrela do Norte 1864
1,\8 il ESTBELLil DO lWORTE. que se via por cimâ tlo altar lhel tinha mente em adoçar, em calmar, mas não lançado um olhar de mais compadecida em ferir e destruir. bondade, e lhe tinha sorrido mais gra- Esta luz subjugava-o completamente, ciosamente, do que neste ·momento, em e não ousava avançar. que o seu espírito se determin_ava a_ um · Ter-lhe-hia sido mais facil, pensava sacrilegio ! « Oh! Judas! pareciam dizer- elle, affrontar um seraphim brandindo lhe com o accénLo d'uma doce censura, uma .espada dp fogo, ou anjos armados Judas I pois tu queres trahir por um beijo de ·a9oites, do que este protector silen– ·a esposa do Filho do Homem? » cioso e pacifico sanctuario e os seus lhe- Elle não pôde suppor~ar esta vista, e souros. Não seria is lo a graça a trium– poz os olhos no chão. Mas alli pa'l:'eccu- phar nelle ? lhe ver a sua filha como elle a havia de- Esta successão de idéas e de sentimen– posto nqs· degraias do sanctuario, s_ete to~ na alma de Pedro não durou realmen– annos antés, dormindo ainda uma vez te senão alguns instantes; mas fôra bas– ·um somno restaurador, e ellemesmo ajoe- táhte para exgotar a pã ciencia do seu lhado ao pé della profundamente pene- companheiro, que, com quanto estives. e trado de reconhecimento. eviden temente assustado, nüo tinha as Neste moi:nenío, nada do que o cercava mesmas idéas, nem os mesmos sentimen– havia mudado de aspecto, nada ... senilo tos, que operavam tão for temente sobre o seu coração I Ai I que mudança I Repel- o coração de Pedro. Ocontrabandista in– liu esta visão, por um penoso esforço, para te:rrompeu bruscamente o sonho que fa– lange de sua imaginação e de sua vista. zia que Pedro estivesse em exLase, e dis– Seus olhos encontraram ainda o~raio fixo se-lhe baixinho - sim, baixinl10, porque da lampada, que embellesava todos os o malvado não ousava erguer a voz dian- objectos com um encanto mysterioso. o te desta luz: · que a vista do home'rn, a luz ele seif co1110, - Vamos, vamos, camarada, não per- é 1Jara 0 resto do rosto, par eia sel-o ))aTa' oarr1os tempo, mãos á obra. o espírito de Pedro esta luz solitaria e - Não posso, diz Pedro em voz baixa, J?Ura do sanctuario ; era como um olhàr não me atrevo. penetrante!e doce ao mesmo tempo que - rrnbecil, replicou grosseiramente o se fixava nelle, como para ver se teria ou ladrr"io, sois alguma creança? Lembrai– não a coragem de realisar seu criminoso vos cta vossa prome' sa, mãos á obra sem intento. demora. Ha no olhar do homem uma espccie de - Não quero, redarguiu a pobre victi- encanto, que suspende o braço do assas- ma. Não , por todo o ouro que ha no sino, e que faz quebrar o ímpeto das fe- mundo, não quero roubar áquella que ras ; tal era a influencia que a vista elo me restituiu minha filha em uma noite sanctuario exercia na alma daquelle des- similhante a esta. graçado; encantava-o, e fixava-o immo- - Então queres matar tna filha em vel no seu lugar; nenhumas promessas, uma noite similhante ? uivou a fora, ran– neuhuruas ameaças poderiam obrigal-o a gendo os dentes, lançando-lhe um olhar praticar um crime sob a magica influen- ele tigre. Se te não queres lembrar da tua ela desta irradiação. Para Pedro, era uma promessa lembra-te da mínha ameaça. intelligencia sobrehutrtana, que dardeja- Daqui a dez minutos estarei em Lua casa, va daquelta lampada os seus raios sobre e dentro ele cinco minutos lerei comple– elle, e estes raios penetravam-lhe no pei- tado a minha obra. Hecusa-tc, e daqui to e prescrutavam o fundo do seu cora- a um quarto de h9ra estarás viuvo e sem ção; tinha uma voz que elle ouvia, uma filha. ponta aguda que so lhe enterrava na car- Pedro estava vencido; estremeceu di– ne, mas com delicadeza e ternura. Com ante desta idéa o desfalleceu-lhe o cora– quanto estes r:aios parecessem brincar 1 ção. o momento da graça havia passado; redor e por cima dos div rsos objectos ; o demonio tomara-lhe a vanLngem. O saltar, po~ assim dizer, e abrandar na desgraçado ex.9lamou com a indifferenra: sua carreira, para elle eram directvs, e da desesperaçao: rapidos como a flexa que se clespedo do - Seja pois, acabarei a minha condem– arco e atravessam a escuridão, mas sem nação. A' obra, mas não á luz desta lam– alumiar, e sem lhe dissipar as trevas. pada; não, concedei-me isto, não com Era para elle aind~ como o olhar fixo de esta luz. _ • um anjo, vindo ah para velar e para ren- - Porqu~ nao? perguntou o outro, por <l r homenagens a Deos durante as horas ventui:,a ?ªº esta ba~tantc claro? silencio a da noite; era o guard~ c~o lhe- - ao 1mport~, diz Pedro, mas não (louro sagrado, cujo poder consistia só- com esla luz. Fiquemos em uma com-
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