A Estrela do Norte 1864

A ESTBELLA. DO NORTE. tilS a:...JUN:::.::a.':i!íldfai F!tSs i-1P& aldeia, e a boa senhora Yoltou para a sua carteira; mas como lhe não uffluiam as pbrases como ella queria, ora encos– tava a cabeça á mão para retlectir mais profundamente, ora ergu ia os olhos para o Céo para lhe pedir inspirações. O quarto que ella occupava era uma dessas immensas casas que se encontram ainda cm alguns Palacios antigos, som– brio, arruinado, mobilbaclo segundo o gosto gotbico, forrado do pannos de raz com grupos de personagens que datavam de mui Ios seculos, e com um leito levan– tado sobre um estrado. Um destes per– sonagens, que representrwa não sei já que deos da Fabula, ficaYa ele fronte da cadeira em que estava sentada l\lme. de Glossiére. Occupada em procurar idéas, que vi– nham com mais difficuldade ao seu es– pírito á medida, que o somno se ia apo– derando de seus sentidos, olhou ma– quinal mente para este deos da Fabula, cujas cores noutro tempo tão vivas, já haviam desde mu ito per dido seu brilho; e qual não foi o seu terror, vendo bri– lhar os oll10s deste personagem corr.o se fossem carbunculos á pnllida luz do can– dieiro. Mme. de Glossiére estremeceu de susto e escondeu o rosto com as mãos para não vêr esta estranha apparição, mas como era uma mulher corajo a e illustrada, n ão lhe vieram ao espirita as ridículas idéas de diabretes, feiticeiro ou de al– mas de outro mundo, tão espalhada s pela sua aldéa ; pensou immediatamente, que um homem de carne e osso es tava escon– condido entre a parcele e o pauno ele raz , e que não poderia ser senão um ladrão. A po, ição ela pobre senhora era horrí– vel; aquelle homem e tava ali com os olhos assestados contra ella, espreitando todos os seus movimen tos, sp rando certamente que ella se deitasse para aca– bar a obra, e disposto o assassinal-a á menor suspeita de ter sido descoberto. Mmd. de Glossiére conheceu logo o pe– rigo em que e5ta.va , e, encommendando– se a Doos por meio de uma curta mas fervorosa oração, tornou a pegar na pen– na, e paz-se a escrever tão depressa como no começo da noite, mas não podia senão formar letras sem sentido algum, porque o c~pirito tinha-o ella preocupado com os meios que cumpria empregar para sahir daquelle perigo. - Ora até que acabei diz ella em voz alta ao cabo de alguns rhinutos e lacran– do a c~rta, que fing\ra ter e cripta. Mas esqueci-me de pedir a Agostinha para me mandar fa:a:er em Paris um brinco il egual ao que eu perdi ha dias; ninguem melhor póde desempenhar es ta comrnis– são. Quantas perolas tem o outro que me ficou? Mme. de Glossiére levantou-se com todo o socego, abriu sua secretária, e tirou ele dentro ele um cofresinho ele joias um brinco d'um grande preço. - Um brilhante cercado ele cinco pe– rolas finas, diz ella; o men cravador deve estar lembrado disso. Aqui es tá um bra– celete que percisa ser bem limpo, aecres– centou a animosa senhora, estendendo muitas joias em cima da mesa, como querendo passar-lhes revista. . . . . Mas onde está o meu colar de diamantes? . . . Ah I agór~ me recordo de o ter deixado na gaveta da commoda do quarto ama– rello no dia em que eu mostrei a Mme. Ouverger ... . foi uma grande impru– clencia da minha parte ; pois vou bus– cal-o porque tenho receio de que ainda me esqueça. Pegou no candieiro com o maior sangue frio, atravessou o quarto sem apressar o passo, deixou a porta aberta, mas fechou com duas voltas a do corredor pequeno que a precedia. Só então é que deitou a correr quanto pôde, accordou sem baru– lho todos os criados ; armaram-se, e vie– ram surprebender o ladrão no mesmo lagar que lhes tinha indicado sua ama. Este miseravel ficou tão admirado, que nem se lembrou de se defender, e deixou– se levar para a prisão sem resistencia, e foi r econhecido por um grande maroto, que .iá havia commettido muitos crimes. confessou então que, quando vira que Mme. Gl ossiére olhára attentamente para o sitio onde elle estava escondido, estivera para sahir do cseonclri,io e a sassinal-a, e não teria deixado de o fazer, se clla tivesse dado um grito, ou mo trado o menor us– to, mas que vendo-a Lão socegada, nunca poderia julgar que ella o tives e visto. Todas as pessoas que souberam des ta aventura, admirando o s;ingue frfo , e a presença de espiri ta de fine. Glossiére, diziam : u Se tivesse tido I"Qenos coragem te1·ia tido uma morte horrorosa. » • E a velha. cú\.da, que cpntava. de boa mente esta bistorra, não e esquecia de accrescentar : << Se a senhora não fosse- tão amiga ele fazer bem e se demorasse vinte e quatro horas em servir a sua. afilhada, onde er taria agóra a minha boa ama? Oma.– vaclo tel-a-hia assassinado Jogo que ador- mecesse. » d. . ao deixemos nunca17ai·a o ia ~eguinte as /Joas acções que 1Jolil'lnos fazer nnmediata– mcnte. •

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0