A Estrela do Norte 1864
18.A A. ESTRELLA. DO NORTE. piedade lavrou o seu decreto para des– truil-o. Profanado o vemos hoj e, e com o co– ração compungido de dôr, não podemos callar, sem levantarmos a voz em nome de nossos pacs. Elles morreram pela fé e temiam ao Senhor, seus filhos a trucidam e a insultam. Só querem a destruição de tudo; a posse dos bens que a caridade publica legou para a gloria do culto, e a morte de ex– termínio em tudo que é bom. E quando essas revoluções se agitam por homens encanecidos pela idade, que deviam apa– trocinar as pias instituições, e renovar a Casa de Deos vivo, para attestarem cm todo o tempo, o seu zelo e a sua piedade; eu não sei o que sinto contra elles, porque só vejo a mais fria indi!ferença e o mais declarado desprezo para aquillo que elles deviam l respeitar! Eu sinto-me, como catholico, possuído de tristeza, porque o nosso paiz tão novo, tão abundante em terrenos, é governado por homens, que só querem estragar o bom e tornal-0 máo; não querem edificar, mas sim destruir, e com offensa dos filhos da Cruz man– dam despoj ar os templos e tornal-os cm moradias de collegios. E para que esse desacato e escandalo, quando temos le~ guas e leguas de terrenos para construir– se esses eclificios? a razão é simples, ó porque já está preparado; é porque a eco– nomia ó necessaria para evitar o esban- . jamento dos cofres publicas, e então o aproveitamento dessas casas é de grande utilidade para o estado. A casa do Senhor tornou-se em salão de pinturas, onde se expõe em vez de um Crucifixo, o retrato de uma Venus, e agora para corroborar a iniquidade fez-se um accrescimo para servir de dormitaria I Que medida hor• rivel, e não sei como não tremeu a penna daquelle que lavrou tal decreto ! Antes elle fosse devorado pelas cham– mas, porque lamentavamos a destruição, e não_ seriamos testemunha de sua pro– fanaçao. Para remate e conclusão do es– candalo, convém que sejam demolidas as torres, a fim de que não represente fórma alguma do templo, o desappareça pa1 i;emprc da lembrança de {todos os bons cat~10licos que ali foi a igreja de s. Joa_– qmm. (Idem. J Varieellules. UMA MYSTIFICAÇÃO. lim máo grac~oso chamado .~enrique 1\ •••• foi não sei em que occasrao, mys- tificado por dois dos seus amigos. Resol– veu vingar-se caçoando tambem cum el– les, e para conseguiT o seu fim poz em pratica uma idéa extravagante. Henrique 1\1 • • • tinha uma habilidade extraordinaria para arremedar; mudava com a maior facilidade não só a inflexão da voz, mas até dava uma outra fórma á cara, ao corpo e aos gestos. Uma manhã bate eue·a uma porta de cocheira ; o guarda portão puxa a corda. Era um homem velho, magro, amarello rabugento. -É aqui que está o Sr. Henrque l\1 . . ? pergunta Henrique l\1 •• • - Não, senhor, responden-lhe o guar- da portão. , - Com effeito, diz o outro, pois ou cu que sou Henrique M ... , dando tempo ao guarda portão para reparar bem nelle, saúda-o com toda a polidez e sahe im– mediatamente. No dia seguinte de manhã, caracterisa– do e metamorphoseado em velho vai á mesma casa. - Está cá o Sr. Henrique M. •• • ? per– guntou elle com uma voz fraca e zangado. - Não, senhor; responde o guarda por– tão. -Está bom, está bom, meu amigo, pois sou eu que sou Henrique M .. . e abala. O guarda portão cuida que tudo isto é um sonho. No dia seguinte um homem gordo, de faces luzidias e vermelhas, batte á porta do guarda portão, e com uma voz ele tro– vão, pergunta: - Não é aqui que está um rapaz cha– mado Henrique l\'l • • • ? -Não, senhor, responde o guarda por– tão jâ assustado com este nome tão co– nhecido. - Mas, replica o caçoante com a sua voz ordinaria, já são trez vezes que eu vos digo que sou eu mesmo o Henrique M • , .. ; e, como nos dias precedentes, saúda-o e desapparecc. O infeliz porteiro começa a perceber que andam a zombar delle. Resmunga todo o dia, conta á toda gente estas tres aventuras. Tratam-no como um pateta, e faz muitos protestos de se não deixar enganar. o dia seguinte ao romper da manhã battc-lhe á porta um commissario de po– licia. O guarda portão estava ainda a dormir. - 9uem está ahi? pergunta elle. Em ~egu1da entra !) commissario. - Quem procuraes? Assim se _entra n'uma casa a semelhante hora? Nao são ainda cinco horas ...•
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