A Estrela do Norte 1864
_I. ESTREJ,.LA DO l\'OUTE, fas tado da sua vida ! Todavia esta promes– •Sa trouxe-lhe uma grande consolação, e como que sentia uma especie de impaci– éncia em commetter o crime que devia ser o ultimo. Foi fixado o dia para um mez depois : este mez parecera um seculo ao infeliz Pedro. Foram baldadas todas .as diligencias para saber delles qual era a natureza do seu projecto. O que era para elle evidente, pelos preparativos que faziam em casa, era, que elles cuidavam ,de uma fugida repentina e definitiva . Era isto para elle a melhor garantia da verdade de suas promessas. Mas tornemos á pobre mulher e sua. filh-a, e Yej ámos o que é feito dellas. ~da mez, que ia decorrendo, desse periodo durante o qual.Pedro se entregava a seu criminoso proceder, maior e mais pro– funda era a miseria e a consternação em que ellas viviam. Niio tinham prova al– guma da natureza dos crimes que elle podia commeter, porque elle nunca trou– xera para a casa o fructo de seus roubos, e, como guardava um silencio e uma re– serva i mpenetraveis, nãohavia razãopara que ellas suspeitassem outra cousa, senão que elle andava envolvido em alguma cousa má. Quando mesmo ficava em casa, não podia já trabalhar, porque ninguem se lembrava de o empregar: era .as im que esta casa, onde ou tr'ora Lavia .aceio e felicidade, deixava ver agóra por toda a parte vestígios de pobrosa, de des– leixo e de decadencia; e no interior havia só angustias e dôres; já não havia o con– versar alegre e folgado, j á não havia risos ; não havia já a confiança mutua. Todavia a mãe e a filha comprehend.i– am-se uma á outra, mas era mais em vir tude de uma silenciosa sympathia do quo por mutua communicação de seus ,sentimentos ; ambas receiavam augmen– tar a dôr uma da outra, e faziam todos os esforços para comprimir a expressão dos seus sentimentos, para retrahir as Iagri– mas que rehentavam involuntariamente de seus olhos, ou en tão choravam sós. Cumpre accrescentar aqui, em elogio el os pobres, que ninguem mais do que elles te~ esta n'.1-turé!-l delicadesa que faz honrar a vir tude mfellzJ e que desvia o sarcasmo e os reproches aos que estão6ho infortu– nio. Nunca o procedimento de Pedro, com quanto fosse de todos conhecido, e o -0bj ecto de um escandalo publico, fôra lançado em rosto a estas duas abandona– das creaturas, uma dac; quaes era real– mente viuva e a outra orphã. Parecia, pelo contrario, que t~dos rencJ:1a:qi Uf!1ª homenagem tacita á mnocencm mfeliz. od.a n gente tomava o seu par tido, todos pareciam adoçar a voz para lhes fallar. 'a sua. humilde habitação entravam umas vezes pequenos presentes, delicadam~nte enviados, de modo a afiastar toda a 1déa da obrigação e lhes suavisavam muitas amarguras ; outras vezes ouviam, ao sa– hir da Igreja, murmurar a seus ouvidos algumas palavras de esperança na bon– dade de Deos, que se dignaria dar-lhes um dia consolação. E com effeito Deos con olava-as. Sem a sua presença, sem a sua graça, sem a sua luz, os seus corações teriam sido des– pedaçados pela amargura e pela desespe– ração. Muitas vezes vinham á noite ajoe– lhar-se diante do Altar, o sempre ali achavam a paz e serenidade de animo que só póde dar a resignação com a von– tade Divina. Fôra uma destas occasiões, que uma nova associação de idéas conduziu a nos– sa joven contemplativa a consoladores pensamentos, analogos áquelles que a Lampada do Sanctuario llie havia. j á sug– gerido; das Dores da Mãe transportou-se ás do Filho. Havia lido na sua pequena Bibfüt de Imagens, e vira representada a visão do Propheta Zacharias (cap. 4°) em que descreve o candelabro de ouro que estava diante do Altar, com as duas oli– veiras collocadas dos lados, cujos ramos se estendiam para os bicos onde termina– vam os canaes de ouro por onde corria o oleo da Uncção (versic. i2). Foi então que os seus pensamentos voltaram para a graciosa luz da Lampada do Sanctuario que cahia sobre ella. Finalmente fati– gada de angustias, cahiu em uma dessas profundas meditações, durante as quaes os pensamentos vem por si mesmos offe– recer-se á alma, e passam diante della como um espelho, e como se não fossem mais do que o reflexos de objec tos appre– sentados por um poder exterior, mas in– visível. Parecia-lhe ver que aLampada se alargava para todos os lados, que se trans– formava em uma fon te de ouro no meio da qual ardia uma chamma de um ful– gor e de uma pureza celeste. Da parte superior dos bôrdos corriam de todos os lados ondas do mais puro oleo, quomãos nvisiveis apanhavam cm frascos de ouro e transportavam para os preciosos the- • souros da Igreja, onde mais tarde devia sahir em triplice torrente para sanctiflcar os meninos, consagrar os l\linistros do Senhor, e for tificar os moribundos con tra os ataques do Inferno. Ao mesmo tempo algumas gotas cahiarri sobre ella e sobre as outras como um refrigerante balsamo e por toda a Pll:rte onde cabiam, cicatri– sovam uma fen da, curavam uma chaga
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