A Estrela do Norte 1864

tl4 .4. ESTRELLA. DO NORTE. -llonito relogio, Senhor! disse o joven discipulo. l\Ie consentis que o mire? O bom Arcebispo deu o r ologio ao me– nino, e como este o examinasse em todos os sont.idos : - Cousa bem singular l meu charo Luiz, disse pausa.damente Fenelon, este rologio se fez a si mesmo.. - A si mesmo ! ! r eplicou o menino olhando seu mostro com um sorriso. -Sim, a si mesmo. Poi um viajante que o achou não sei em que deserto. E é certo que so fez a si mesmo. - É impossível l disso o joYen Luiz ; meu mestre ostá zombando de mim? -Não, meu filho, não zombo do ti. Que achas do impossível no que eu disse? -1\las, Senhor, nunca um relogio póde se fazer a si mesmo l -E porque então·? - Porque é preciso tanta exactidão no arranjo destas mil rodinhas, que formam o movimento e fazem andar igualmente os ponteiros, que não sú é preciso intel– ligoncia para organisar tudo i'ito, mas poucos homens Jla que o executem, ape– sar de seus esforços. t absolutamente impossiYel que isto se faça a si mesmo; nunca crerei tal. Enganaram-Yõs, Se– nhor. J<'cnelon abraçou o menino, e mostran– do-lho o bello Céo cruc brilhava acima de suas cabeças disse : -Que pensar, meu charo Luiz, dos que querem que todas essas maravilhas se t enham feito por si e se conservem a si proprias ; e que não ha Doos? - na homens tão estupidos o tão máos r1ue digam isto? perguntou Luiz. . -Sim, cha.ro menino. n a quem diga semelhante absurdo; cm pouco numero, graças a Ocos; mas ha quem o creia? isto é o que cu não pósso affirmar, tanto é preciso violentar sua razilo, seu coração instinctos e bom senso para fallar de tai modo. So é ovidonto que um relogio não póde so fazer a si mesmo, quanto mais o homem crue faz os relogios ! Houve um PTi~1eiro h?me~ ; porq1.ro tudo tom prin– c1p10, e alustoria da humanidade attesta universalmente este princ,i,pio. É mui preciso que alguom HzesS'e o primeiro homem. É o Ser que fez todos os seres e que não foi feito por ninguem, que chama– mos Deos. Ello é infinito, porque nada limita sou ser; eterno isto é infinito em duração, sem principio, nem fim ; ·todo ~odoroso, justo, bom, santo _p~rfo1l~ e infinito em todas as suas perf 1çoos. E~lá invisivolmcnLo om toda a parte, o nm~ µ:uem 1>6clo sondar suas maradllla~. 1~ nelle que nós vivemos, que nôs movemos e que existimos. Elle é nosso prim iro principio e nosso ultimo fim; e a felici– dade, neste mundo e no outro, consisto em o conhecer, servir e amar. Tal foi a bolla lição que o illustre Ar– cebispo de Cambraia deu a seu pequeno companheiro. Elle tambem nol-a dá, charos leitores. E podemos aproveitar– nôs della para reconhecer, mais uma vez, quão ridículos são os desgraçados que ousam negar a existencia de Deos. O homem que diz:-« Não ha Deos, ,, é obrigado a dizer : "Todos os homens de todos os tempos, do todos os paizes erraram, e ou só tenho mais intelligencia que todos elles. ,, Em outros termos: - « Eu não tenho o enso commwn ; » porque o senso commum não é outra cousa senão o sentimento commnm e universal de t0do o mundo. Por consequencia o homem que duvida da existencia de Deos não tem senso commum. Bom proveito! Eu não acoito este elo– gio. E vós? O atheo, o homem que néga a Deos, é evidentemente um homem a quem falta o bom senso. Que responder com eITeito, ao pensamento tão simples, tão ingonuo do Fenelon? O que estes ímpios tem doente não é o espírito, ó o coração. Ordinariamente são líbertínos, de costumes clcrrancados, ou homens injustos o doshonestos; ou ignorantes orgulhosos que lêram algumas paginas de máos livros. que engolem quanto parvoice ahi lbes impinge1P., e que julgam-se espiritos fortes. São sim– plesmente dígnos de lastima. O atheismo verdadeiro, calmo, imper– turbavel, não so acha senão nos brutos. o homem dotado da faculdade de pensar, não é dello susceptivel; só quando quer viver como os brutos, póclo fingir a falta de Religião que é propria delles. Quantos atheos só em palavras tom mudado de repente de tom na hora da morte! Por isso um celebre anatomista dizia: "Dai-me a lingua de um cão mor– to e eu a farei latir contra os atheos. ,, "Dai-me poderia olle ajuntar, a lingua de um atboo, o ou farei vêr á seu possui– dor, pela analyso das marav!lhas que ella apresenta, que é ou um rnsensato, ou um impudente mentiroso.» o bom meio de crer em Deos, é viver de maneir~ a não t~mer seu_sjustosjuizos. E a maneira do viYer assim é praticar ponctualmente o que ensina a Religião• é ser um catholico bom e fiel. ' • ( Tl'fldv ·(·úo.)

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