Estrela do Norte 1865
.~ E!!ITHELLA DO NOllTF.. G:J xvr. 'ão espereis fazer bem ao vos o amigo á hora da morte· o amor faz ompanhei– r os e não herdeir~s, ell~ nüo dá _o tfue pe'.– do e o que é cons trangido a deixar, mais faz commum o quo po sue : o tempo das sua liberalid ades é a vida; a avareza ou a nece sidade s.lo as que dão na morte e que fazem o te t amento . . Fazendo lJeneticio não façais queixas, e quando obri"'ais u m ami~o com al""um fa– vor, a vossa cara e palavras o obrigu em ainda mais : a tristesa daquelle que dá, offtm1le áquelle que recebe e muda o ~e– neficio em desgosto. A falla da dad1va deve ser desculpada porque póde_ vir de impo sibilidade; mas_ o consen~1mento tri te e melancolico nao póde deixar de ser odioso, porque não póne vir senão da avareza, ou falta de afl'eição. . as occasiões de ajudar aos vossos ami– gos tende sempre tres cousas abertas , a mão a cara e o coração. E' fazer duas ve– zes lim presente, fazendo-o logo e depres– sa · mas é fazel-o mais de cem vezes, fa– ze~do-o com bom modo. Da mesma s_orte nunca vos succcda dizer a um amigo: Vinde amanhã, e eu vos darei. Uma graça difforida vale o mesmo que uma escusa, e não é dar senão a metade o não dar logo no dia em que se póde dar. Parece que por es ta tardança bu scnis tempo para na– da fazer· ao menos mostrais que não obri– gais cor{. gosLo: a alegria é prompta, e tudo o que agrada se faz depressa. XVII. Não molesteis o vosso amigo que differe pagar o que vos deve; é melhor terdes o vosso dinheiro um pou co mais tarde, do que perder tão depressa uma a~izad_e tão querida: ó empregar bem o d10he1ro o empres tar por aITeição; mas é perder mais do quo elle vale, o perder um amigo para ter o vosso dinheiro. Pois se tendes pressa de ser pago, julgai que clle tem ainda mais pressa do se [de– sempenhar; e sabei que não é tão _pen~so a um homem de bem a falta de drnheiro como o dever': 'conten tai-vos que elle se aftlija e inquiete, e não o envergonheis fallando-lhe nesse negocio. Os que teem uma verdadeira amizad~, envergonharn-s~ de lembrar _àlg um3: di– vida na memoria de um arrpgo ; pois se tendes muito valor e muito amor enver– gonbai-v:os ele lembrar-vos de taes divi– das. Não é ser bastantemente generoso o fallar-se ni sso, a verdadeira cortezia é es– quecer-se. ( Contintía. ) Variedade. BOM FILHO, BOlI JRMAO li BOll CIIR STÃO. Uma mãi tinha dois filho s · o mais ve– lho onplelando o curso da cscolla mili– tar de S,lint-Cyr, tinha mostrado na Cri– moa o valor de um militar; depoi de to– mada Sebastepoli ellc veio pa ar alo-uns dias em compan 1ia de sua mãi. q1egando, acha seu frmão, mais mo– ço que elle dez annos, nas garras de libi– tina. O menino não tinha vida para muitas horas, e a alma da pobre mfü parecia li– gada a vida do filho .... « Si elle morre, eu devo morrer disia ella, este menino era toda minha vida. ,, Estas palavras erão bem duras para o militar, mas, com tudo, elle não criminava sua mãi. « Si fo se eu que estivesse nestes t rances, dizia o offi– cial, seria tão amado como meu irmão. ,, Todo o poder da medicina não foi bas– tante para curar o pequeno moribundo; já seus negros olhos estavão vidrados e amortecidos ; já elle não via a rnãl cari– nhosa e o irmão consternado, que lhe a– pertavão as mãos frias e sem acção ... 11 Elle vai morrer ! ellc vai acabar-se t. repetia a infeliz mulher. o cura fallava já de r esignação, e rlisia: que os meninos são bem felizes, que o· bom Deos os faz anjinhos... A mãi sú escutava a respiração embaraçada do seu filho. O irmão tinha ·o coração traspas– sado pelos soffrimentos do irmão e deses– pero da mãi. O menino faz um movimento convul– sivo; todos assustão-se. O cura diz: 4( Suppliquemos l e ajoelhou-se. Eis a supplica que o joven militar fez. mentalmente; só entendeo aquelle que conhece os nossos mais intimas pensa– mentos : » Meo Deos, disia elle, se dais• saúde a meo irmão, eu vos prometto con– sagrar-me á educação dos meninos de sua idade ... Eu lhes ensinarei a amar-vos e louvar-vos ... - Meo Deos, eu vos lou:varei todos os dias de minha vida, si derdes saúde- a meo irmão e consolação a minha mãi. ,1· Esta supplica de amor filial e frate:mal chegou até ~quelle que mata, que cura e que r oscuscita . . . e o menino foi salvo. Passado algum tempõ o ofticial diz a– deos a sua mãl, contando-lhe o voto que fizera. u Eis minha espada,dis elle, vós a dareis a Henriques; quando elle for maior tal– vez que ella lhe sej~ util: eu vou ~oro– prir o que promett1 para resgatar-lhe a vida; ensinarei os meninos de sua idade --
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0