Estrela do Norte 1865
apenas me promettestes uma oração, e eis– me rrn necessidade de YOS bemdizer. nr – solvido á servir- nos o Mestre, ma · da:o tlo sempre em meus designi os um vasto la– gar á intemperança da vontade humana, eu sonhava em me elevar á primeira di– gnidade: mas ni'io ora parn. ser vi. to cl"rl– lo, era para ser vi -to do mundo. f oi en– tão que conliecendo o meu perigo, eile vos oflereceu a meus o1hos, e sobre vossa fronte, eu li cm caracteres indeleYeis, ,1 palavra que me teria confundido~eterna– mente : « Aprendei de mim que eu sou doce e humilde de coração. n Quant0 vos agradeço, minha irmã! Tra(l. por J. r. DR QUEIROZ. O naufragio feliz . Xenofonte, r ico e poderoso fidalgo de Constantinopla, vivia com i\laria sua mu– lher em touos os exer cícios de uma vida r eligios::i.. Tinham dons filhos, João e Ar– cadio, que foram educados cm conformi– dade de sua posição; quando completaram os seus estudos litterarios, se us pais os en– viaram á Fenícia, a es tudar leis. A viagem a principio foi feliz , porém subitamente levantou-se uma violen ta tempestade, que poz em grande perigo o navio, o qual a fi– nal foi entregue á mercê dos ventos e das ondas. nar- me a desprezn.r todas a cousa terr"c– nas. Poqu n:1lt· rei cu a tomar posse de ben pel"e ·i\·cis, dos qun es lo~o serei r ri– vado? ~ão s:!r ia cm mim muito mais siso procurar rcfu~io em a.lg ·um sancto mos– teiro, onde sóm nte pensa se naquell ('S que nunca perdem?» En tão cahi ndo de joelho ·, implorou a Deos ahençoas·e a sua rcso1uçiio, e ins– pirasse a seu irmiio, se fosse ainda vivo, o mesmo de i nio. Cheio destes sancLos pensaméntos, continuou a sua jornada, e o seu bom anjo o cond uziu á um conven– to de sanctos solitarios. Foi ap resentad o ao abbade, varão respeitasel , que, depois ele :Uma meiga recepção , pergun tou-lhe quem era, d'ondc vinha, e qual o objecto dos seus el es jos. «Sou um pobre peregri– no, respondeu elle, qu e solfreu naufragio; não tenho outro desejo que ter a feiici– dadc de ser admit tido em vossa sancta companhia. )> Oabbaele sentiu-se agrada– do e movído da apparc_p.cia modesta e hu– milde do mancebo, com o qne quer que seja de celestial em seu semblante, e ins– pirado por Deos, co nsolou e ab raçou ter– namente o viajante, e o recebeu entre os seus r eligiosos. Todos á bordo julgaram-se perdidos sem recurso; e os dous irmãos, perd endo a es– perança de sal varem-se, aliraça.ram-se um com outro o despediram-se, como se tives– sem chegado á sua ultima hora, lamen– tand.o a sua sm~e, e d.izendo : «Ah! qual não ha de ser o sentimento de nossos pais? Recommendaram-se a Deos, e no mesmo instante o navio foi a pique e engolido pe– l as ondas. João, o irmão mais velho , agar– rou-se a uma pranxa, e deixou-se flnctu– ar conforme a direcção das ondas. Ar– cadio , segu ido o exemplo de seu irmão , pegou-se á uma ou trn pranxa, unico re– curso que lhe restava em sua desventura. Não se en°an~ram cm sua confiança em Deos; conduzidos pela Providencia, am– bos alcançaram terra nas costas da Fini– cia, com quanto em consideravel distan– cia um do outro. Cada um d'elles sentiu– se meno satisfeito de sua propria salva– ção, do _qu e afflicto pela. supposta morte de seu irmão. João, achando-se em uma. praia deserta, fez sériamente as seguinies reflexões : « Eis a incertesa de todas as felicidades mundanas: Oeos sem duvida pPrmittiu este naufragio fatal, para ensi- A sorte de Arcadio, por especial provi– dencia de Ocos, foi qua.si sim ilhante; lan– çado em outra costa, ajoelhou-se para agradecer a Deos de havel-o assim mara– vilhosamente preservado; e recommen– dou seu pobTc Í'"mão á sua miscrícordia, se por fortuna tivesse sobrevi viclo ao nau– fragio . Depois, delibeTando sobre o que lhe seria melhor fozer naquella triste si– tuação, disse comsigo mesmo : (( ()uc forei cu? se tornar para os meus pais sem meu irmão , servirá i ,to sómcnte para afUigil– os: se "ficar nesla terra estrangeira, só pas– sarei uma vida miserarnl. Ah I meu ir– mão me fallou muitas vezes com elogio da sancta vida do anach oretas, não obraria eu com mais sabedoria abraçando-a, como um caminho seguro para o céo ? n Hesol– veu- se á isto sem demora; m1s primeiro desejem ter a consolação de ir visitar os sanctos lagares da Palestina. Depois disto entrou, sem saber, no mesmo mosteiro em que seu irmão tinha sido admittido; viveram alli desconhecidos um dro outro, devido isto á solidão e ao silencio que os cercavam. O superi or sómente, a quem haviam communicado as suas aventuras, sabia que eram irmãos; e, para maior des- . apego cl'elles, os deixou ignorar que vi– viam ,iunctamentc na mesma casa . Neste meio tempo, os infelizes país esta– vam na maior afflicção. Não tet1do notí– cias de seus queridos filhos, mandaram um enviado á, Pinicia; porém este, depois
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