Estrela do Norte 1865

- • i\luitas vezes ella a repetiu em minha presença; e a menina ahi revelava um Ycrdadeiro talento. l\las eis que cahe de repente doente; e ainda que sua indis- posição não offereça al.g-11 m cafacter as– su stador, toda via o medico aconselhou que ella se detivesse no leito durante tres dias pelo menos. Podeis julgar nosso embaraço; a prin– ceza dever~ chegar depois d'amanbã; res– ta-nos mm pouco tempo; e o recebedor geral quer essencialmente que esse poe– ma de circumstancia tenha logar no pro– gramma. Depois de bem reflectirmos acha– mos que só l\Iathilde podia substituir a Frederica n'esta occasião solemne. Eu venho pois pedir-vos, da parte do recebedor e da do nosso pastor que per– mittaes á vossa filha saudar a 'soberana. Amãi tinh:~ a principio lançado um olhar sobre Matlulde, que se conservava pallida e tremula ao seu lado. Como esta tímida menina poderia se resolver á levantar a voz em presença da. augusta mulher? Opai, que notava tam– bem a perturbação extrema de sua fi– lha, disse ao instituidor: deveis saber meu amigo, que vivemos parcamente, e que nossa filha não tem vestidos conveni– entes, para se appresentar perante a prin– coza. A senhora do recebedor geral pre– venirá isso ; Mathilde tem a estatura de Frederica: um simples vestido branco lhe irá muito bem. queriam t'ornar hrilhanle sua recepção .iá á rn:1ilos annos a princeza não tinh~ vindo a este modesto paiz; o, todavia, a lembran ra el e ua bondade, de sua jusliça, <l e sua Locan te piedade, tinha ficado gra– vada om totfas as memorias. Os guardas das fl orestas, os criados do castello, dis– punham os ~osq ues, o redil, os quartos com .-crdadeiro luxo de ordem e acceio · o JJourgomestre cuidava cm embell ezar a~ ruas, e I?asseios; o digno pastor compu– nha cuntwos de bem vinda que o velho institui dor ensinava á seu~ discipulos; t udo marchava com esla feliz ordem que ünprime o movimento do coração, sem– pre tão engenhoso, quando uma sincera a1feição o dirige. Uma tarde estava ma– thilde assentada com seus pais, debaixo de um largo morangueiro que se achava proximo. A candida menina fazia mui– tas perguntas sobre o proximo aconte– cimento que preoccupava então todos os espíritos. Oh ! quanto lhe tardava ver a mus tre e benevolente princeza com a qual seu pai a entretinha muitas vezes! Mas quanto ella se teria occultado, no temor que um olhar da soberana não viesse per– turbai-a a té o fundo da alma. O pai de i\Jathilde era escrivão do I ecebedor geral: confiava-se-lhe em grande parte os bens de .Sainengen ; e suas funcções lhe tinham g rangeado , muita~ ve~es, a honra d~ ser admitt ido fallar a prrnceza. Elle tmha recebido da ultima vez signaes d"estima e confiança; e, bem que as merecesse em todos os sentidos, o excellente homem não tinha menos concebido um profun– do reconhecimento; e sentia uma dedi– cação sem limites, para .com a nobre se– nhora. E' facil cu111prehendcr que elle tinha inspirado os mesmos sc~timentos_á. sua filha e que a doce rnenma expen– rn entava 'uma indisivel alegria vendo os preparati os ela fes ta. A familia dispu– nha-se á recol her-se para ir gosar o re– pouso; jà Mathilde tinha piedosamente rrcitado sua ornção da tarde, quando uma visita inesperada veio surp~'eh e_nd ?l-as. Hartholomeu o respeitavel m st1tu1dor , que muitas vezes á esta hora, achava , n 'um pacifico somno, a r eparação do suas forças enfraquecidas por uma lon 9 a e con– senciosa prati ca, Bartholomeu ve10 assen– tar-se junto do escrivão. Contra seu h~– bito, o velho estava cuidadoso e parec1a vivamente preoccupado. . Meus amigos disse elle, uma c1rcums– lancia bem desdgravavel se appresen ta cm nossa festa . . Sabeis que a joven Frederi ca, filha um– c::t do recebedor geral , es tá designada para recitar uma poczia á nossa soberana . Não vos embaraceis, eu , os peço, com estes promenores; nos cuidemos nisso an– tes de vós. Consenti sómente que ella es– tude o poema, que eu tenho em meu po– der. l\lathilde, prosrguiu o bom pai, com voz tremula, cura filha, fazem-te hoje uma grande honra: tu estaes d0signada para seres a interp rete.dos sentimentos de todos. A princeza é doce e henevolentc; ella te escutará com bondade. Procura ven– cer a timidez de teu caracter, e dispô -te a corresponder ao voto de teu institui– dor. l\Iarthilde, lançou-se ao pescoço de seu pai, e prometteu lhe fazer tudo o que elle dese,jasse. -Depois d 'alguns instantes, a doei! menina estava em sua. camara para descançar e, ao fulgor de su3. lampada, estudava corajosamente seu poema. . o dia seg uinte ao ~lvorecer, ella apro– x1mo~1- se de seus _pais, e, depois de ter r ecebido sua bcnçao e ternas caricias co– meç~ u a reci~a~ a poesia. Foi i to ao pé do d1gno escnvao e _de sua mulher ambos JJanhados em lagrunas. Nunca tinham elle~ exp~rimentado tanta expressão ein– tclll gcnc1a no olhar de su a filh a. compre-

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