Estrela do Norte 1865
que todos os dias se sentia compassirn o Yenclo, não lho clava nunca co u a algu– ma .nenhum olclo tinI1a, e o pouco que contmha sua carroça nao lhe perten ·ia. Oras ba tião sabia muito bem seu de– yer e por isso nada podia di por porque não 01-a seu. Contristava-se elle mui to, ma aconteceu que u m dia elle tive se es– tes pensamen tos. uVejamo ,qucpos uo euncstemundo? Nenhuma cousa; en t rctan to tenboum cor– po e um coração , faz em doi , 6 muito !» Meu corpo quer dizer mcuc; braços e mi– nhas pernas, tudo isto é muito commodo; porém, como é preci o que eu arraste a carroça do bom visinho que me creou, é tal vez como se não me pertence se. Jcu corai_:ão, oh I por emqnanto muito para mim. Por mais que eu ame o Senhor de todo o meu coração, resta sempre alg um lngar. Talvez sej a o coração maior do que scj ul– ga : debalde se põe nellc muitas cousas, nunca se enche. Pois bom; se eu desse ao paral ytico um pouco deste coração? se me approx irnasse delle ? se lhe di ssesse : Eu nada tenho, sou pobre e creança; porém eu vos amo muito. E depois eu me demoraria um pouco, romo demoro quando espero as praticas, elle sa– l)eria hem que cu faço isto de propo ito , para lhe dizer : -C mo passa ? soifrcs me– n os qu e h ontern? En tão lh e prestaria al– gu ns peqnenos serviços, e tal vez qu e tudo isto o consolasse ? Oll ! sim, isto consola quando se pára sómente por vós, quando se vos falla com brandura e quando se vos diz: -- 11ontem, esta noite, esta ma nhã Ierohrci-me muito de vós . -Vou emfim csperímentar isto, tal vez que o pobre ho– mem seja menos infeliz. » « com efieito, Sebastião fallan, t.odos os dias ao velho, ao principio elle o fez com medo, depois com animo , o o parnly– tico tocado de sua attenção acuhou por di– i er :' Em verdade creio que ~lle _me a_ma ! •> Oh! como é s uave para rmm rnf,lJz crer qu e se o ama, que ~e acb~u um peqneno lugar cm 11 m coraçao ! A V1da m n~la de as– JJ')cto á seus o1hos : Algucm_se ,mtcressa voluntariamente por elle, nao e somente a caridade que se exerce, é alguma cousa mais doce que recebe com um grande re– conhecimento. Durante muito tempo o menino nunca deixou ele parar diante do paralyLico, de con versar com elle de mu– dar a posição de su as pernas para lhe dar algum allivio. Perguntava-lhe como pas– sava e lho contava tambem alguma_ cous_a ela propria vid a ; porque é a r ec1pron– dade que cons Litue a ami sade. o velho passava a manhã em dizer com- igo : uO pequeno e, tâ vara chegar. » E dcpoi do meio dia dizia : O 7Jequeno chego11. >> E era uma felecidacle parn. e te pobre esL·u quasi abandonado. Seba tiüo cresda. Chegou o dia de sna pr!meira communhão . De que santa ale– "'na. -ncheu -se seu coração ne dia! O rnemno do povo era tão feliz como um fi– lho _do Hei ! Cada pul ação e en coração subia â Deos como uma su p1 lica h ia de esperança. Pobre menino l r eceb ia a re– compença prometticla á caridade, danJo e mola, tambem, t inha dado uma parle de seu coração á uma pobre creatura de Deo ; por is o o Senhor se inclinava. com amor para elle e r ecebia todos os xforços de s ua alma piedosa. m dia Se!Ja tião, que tinha então qua– torze annos, parou eg- undo o rostnme, pot·óm poz-se a chorar, seu amigo velho não es tava mais alli ... Voltou o dia se– guinte e não achou mais; emfim passa– tlos tres dias encontrou em certo lugar um h omem que lhe disse : Toma, isto t e per– ten ce. Depois o homem foi se embora. Sebastião, assentado na carreta leu es– tas palavras traçadas por intcrmcdio de uma mão estrangeira: u l\Ieu filho, e tou rnlbo, pobre e paralytico, vou já morrer . Se eu tivesse thesou ros todos t'os deixa– ria; poróm não tenho senão o pão ile cada <lia e apenas o que 6 preciso para acab ar uma Yida miseravel. Entretanto, m eu fi– lho; quero t e dar uma lembrança : Guar– da es te crucifixo, que nunca me deixou, e não esq uece quo mo amando me dás an– tes bastante para pocler esperar, sem mui– to sollt-er a melhor vida que Deos nos guar– da. » Aqui so achava a assignatura quazi invisivel do pobre lnfermo. No subscrito se lia : « Eu peço a qualqu er visinho caridos9 que mande meu cr ucifixo e este papel a um menino quo se achar ao meio dia, adian te do lugar que eu occupava duran– te todo o <lia. Lá reconhecel-o-hão porqu e moslr:i.rft um ar tri ste n ão me vendo mais alli; por q 11 e me amou, e, pohre tanto como 011, só m fl deu de esmola um cora- ção. l!.Jsus antigos. Desde o tempo de el-rei D. AfTon so V, costumavam os re.ls ele Portugal comer em publico, segundo dizem algun escri– ptores antigos, n as Memorias de João I e de o. AlTonsu Ve . 12~ . Assistia á meza então um Trincha11tc,
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