Estrela do Norte 1865
~ E ~TBE.L.LA DO NOll'l'IE, çasse estas palavra terríveis que são como o resumo de toda sua Yida: Vós SOIS O OLTlllO DOS 11011E,·s PELO CORAÇÃO ! VL Eis aqui o coração de Voltaire ! E cu digo que é vergonhoso que em 1864 haja ainda homens, que se digam amigos do povo, e que ou em gaLar e se coração ; que deplorem que elle não tenha um lugar no Pantheon, que lancem em ro to á Aca– <lemia franceza, não ter reclamado a posse delle, que gemão ele vel-o collocado cm uma vidraça como 11m simples objecto de curiosidade, e que se proponham render– lhe um dia outras honras ! Adoradores do coração de Voltaire, Yós haveis dado a vossa medida. Vós vos dizeis amigos do povo, e cxal– taes o homem que sempre desprezou e detestou o povo. Vós vos dizeis amigos do progresso, o exaltaes o philosopho que embargou todo o progresso ridicularisando a virtude, propagando a mentira, manchando a arte. Vós vos dizeis amigos das lvzcs, e fa– zeis um deos do má.is descarado menti– roso que nunca existiu. Vós prégais a fraternidade e tomaes por padroeiro o h omem que applaudio o as– sassinato da Polonia. Vós fazeis soar bem alto o vosso amor da indepcndcnciu, e honracs a memoria do mais humilde cortezão de uma Catha– rina II e de um Frederico II, do cortezão de um Pompadour. Vós vor,; dizeis patriotas, e 11edis honr::is para o máu cidadão que chasqueou diante do estrangeiro dos clezastres da França, e que ridicu larisou o proprio nome franccz . Adoradores do Cüratão de Yollaire, eu o repito, vós haYeis dado a vossa med ida. Tanto melhor, porque não podereis mais enganar a ninguum. i\o dia em que o coração da França bat– tessc com o coração de Voltaire, a Fr:rnça teria cahido no ultimo'"degrau na ordem •las nações. Vós 11:lo tereis o prazer de assistir :i esta lamenlavel qucrla; o vac uo que se faz ~m torno de vós deve advertir-vos que ides errado; ellc dá-vos as melhores cs– pcran as pai-ao futuro. O _rcma1 de Voltaire cs ~á acabado, é pr2t 6 .º c~u-~ tomeis o vo so partido. corar,~o de voltairc não é mais do is~ ~l~ PSlmil ples objecto de curiosidade, ' . 0 e ser mais oulra cousa. ~ossas l::unentai,:õe e a vossa proza não p o 1nm mnrl:tr '+elasituaç[o. E Jc us reina sempre é sempre adora– do, sempre amado, e hoje mesmo tre– zento~ milhões de homcn , apezar de Volta_1re, ap~znr de vós mesmos, pro tram– se dianLe d aquelle que salrnu o mundo. G. QUANÉ . (Le Comtemporain.) U 111 co1·a9ü.o tle e sn1oia. Sebastião era um menino de dl:lz a dose annos. Creado orphão e pobre na escola da desgraça; tinha sido recolhido por um vi– sinho caridoso, porém pouco afortunado e a infancia de Seba tião passava sem ale– gria, sem afagos, emfim, sem alguns des– ses pequenos prazeres que tornam doce a \"ida do llomem em seus primeiros dias. Todas as manhãs sabia Sebastião arras– tando uma carreta que continba fr utas, legumes ou flores, segundo a estação. As– sim andava ellc muito tempo pelas ruas de Paris, annunciando e gabando sua mercadoria com u ma phy5ionomia tal que agradan113tvoravclmcnte os compradores. ,-fas quao escassos eram os proveitos des te peqeno commercio ! Quando Sebastião dava a seu protector o producto da venda, este se entristecia muitas vezes e dizia que os negocios não iam bem e que isto tinha sem duvida tal e tal causa; por exemplo: pela demasiada chuva, ou antes pelo calor fortíssimo ou frio mnito rigoroso ou ainda mesmo pela forma do governo. Era pois impossivel á este bom homem dar dinheiro ao pequeno Sebaslião. Tinha elle grarnl e cuidado do menino e o trazia sempre ::est!do segu ndo_suas pos– ses e lhe dava boasopacpompao;porém c::ra. tudo quanto ellc pod!a fazer. Entre– tanto o mancebo ouvia muitas vezes fal– lar oas esmolas que os ricos dão aos po– bre<;, o dizia comsig·o mesmo : "Quando se é feliz em ter alguma cousa ele mais, póde-se clal-a, e isto causa muito gosto aos outros e a si mesmo. Eu, que tenho de mais? ada, é tri te ! . .. Não posso soccor·– rer a ninguem, eu!» uma circumstancia particu lar tornava ainda mais penosa a reflexão do caro me- • nino. Encontrava elle todos os dias no ca ruin1:Jo_um JJ_aralyti o pobre e digno de compa1xao, pois que estava inteiramente só, encosta\lo á uma parede e mostrando aos passageiros, como uma incessante sup– plica, s<'u olhar terno e 1.eus pobres mem– bros immoveis. De tempos em tempos da– vam ao velho um soldo ; porém Sebastião 1
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