Estrela do Norte 1865

E.<:§'.D.'RELLA D@NORTE, 10& Víam os pais de Victoria com felecida– de os progressos desta amizade. A indole branda e socegada de Rosalia devia neces– sari amente produzir bom e1Ieito na de sua amiga. Testemunhou o marquez á sua irmã o desejo que tinha de levar a amiga de Vi– ctoria, pelo que ficou bastante contris– tada a priora; mas julgando vêr nis to uma disposi ção da Providencia, e co'.Ilpre– henàendo que sua vida devia ser toda de abnegação, consentiu em que seguisse Ro– salia a joven Victoria, cuja alegria foi il– Jimitada. Não pôde a digna priora no momento da par tida dissimular a dôr que experi– mentava, e pediu instantaneamente á Ro– salla que a viesse visitar todos os annos. De sua parte a sensivel donzella derra– mou copiosas lagrimas ao separar-se de sua bemfeitora. Cobriu-lhe a mão de beijos, e agrade– ceu-lhe mil vezes ainda tudo que lhe de– via. o marquez Antonio passava ordinaria– mente o verão n'uma magnifica casa de campo que possuía; mas desta vez foi di– rectamente á .Palermo, onde se acha a imagem veneranda de Santa Rosalia pa– droeira da Sicilia. Preparavam-se então com grande so– lemnidadu e pompa as festas em honra da santa. Tinha Victoria contado tantas maravi- lhas da cidade e das brilhantes ceremo– nias que se iam fazer, que Rosalia expe– rimentava uma verdadeira felicidade no pensamento de ahi chegar, principalmen– te sendo estas honras tributadas á _s~nta de seu nome. Chegaram os nossos viaJan– tes na capital de Sicilia no mesmo dia da festa. o mais bello céo favorecia os prepara- 1 ivos; estava a cidade r espland_ocente, e todas as ruas ornadas de arcos tnumphaes e do pyramides, on~e en tre.ª verdura das folhagens sobresaluam vanegadas flôres , formando engraçados ramalhetes. A s duas donzellas estavam pasmadas. Foi ás tres horas que a magnifica pro– cissão pôz-se cm marcha. Devia atravessar toda a cidade, desde o Mai·i1w até á Porta-JYuova. Uma immensa carroagem era precedida por numerosa cavalgada, que caminhava ao som da mu– zica : acompanhavam-na todas as aucto– ridades da cidade e das visinhanças. _E~ia carroagem de maravilhosa belleza tinna a forma de amphitheatro. Em cada um degrau estava uma mul– tidão de cantores. Elevam-se á cima das galerias columnns de estylo cori nthio ; sobre ellas uma Igreja rodeada de bustos ; e no cimo estava collocada a estat ua de prata de Santa Rosalia. Ramagens, e co– rôas de flores se en trelaçavam entre estas sumptuosidades d'arte. A carroagem era puchada por clncoen– ta e seis mulas ricamente ajaezadas, e conduzida por vin te e oito postilhões, em cujas roupas resplandecia o ouro. A pro– cissão descrevia quasi um ci rculo. Devia acabar 'a festa por um brilhante fogo de artificio. Quando entrou a procissão manifestou– se movimento mais activo alnda. A' im– pressão deste imponente espectaculo, a– travessava cada um alegremente as ruas e admirava as variadas decorações dellas. De todos os lados fazia m-se ouv ir harpas, guitarras e cantos. O r egosi.io era geral. Um homem só parecia indiflerente á esta felicidade. Trajava miseravelmente, e caminhava silencioso nas ruas. Em suas feições se divisava o quer que era de sombrio e feroz ; os olhos profun– damente engolfados na orbita, estavam chammejantes, e pareciam procurar al– guem em que cavassem o odio que ex– primiam. Entrou por fim n 'uma casa de jogo, onde demorou-se por muito tempo lan– çando para toda a parte olhares avidos, quando_de repente deyarou com um joga– dor. Mais prompto nao é o leão que des– cobre a presa do que o foi o sombrio per– sonagem que acabamos de pintar. Agar– rando fortemente o jogador pelo braço, exclamou lívido de raiva : -Apanhei-te sempre, mizeravel I Não me conheces, Nicolas ? -Larga-me I larga-me I Jeronimo, sup– plicou o odioso gatuno. -Largar-te ? Não irás d'aqni sem en– tregar-me a minha nosalia. Quantos an– nos ha que embalde a procuro. Onde está minha filha? ... -Tua filha ? ja te esqueces de ter-m'a vendido , e vendido bem caro, na ver– da'.lc ! lnfame, bramiu Jeronimo, paraque tra– zer-me a lembrança meu barbaro proce– dimento? Te aproveitaste de minha em- briaguez e mizeria. . . para; arrebataste- me a unica filha . .. me entendeste?... Minha filha ! minha filha I da~me· a minha Rosalia 1 -E' preciso primeiro, que me embolses do que te dei por ella. -Eil-o, exclamou Jeronimo, lançando sobre a me~a. uma bolsa velha de couro, na qual retrn1a o metal. Restituo-te mais do duplo do que me deste. Pouco me im-

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