Estrela do Norte 1865
ES'.l'KEI.1LA IDO ~ORT&!. ·o dia seguinte, puz-lhea mão. O fr io <la prata fez-me parar. Hecuei, assustado. Reilecti. E ta moeda não é minha I Es– queceram-n·a aqui. Hão de vir procu– ra-la . Descobre-se tudo, e eu sou castigado ... como ladrão . '.\ão I não a tiro. Esia tentação dt11'ou alguns dias. Fi– nalmente succumbi . Agarrei nos cinco tostões e corri ao confeiteiro. - Dê-me aquelle cão de assucar. - Qual? -Aquelle azul, dourado, e bonito ! - Aqui está. ,igarrei no cão, e ia a sai r com o meu thesouro, quando o confeiteiro me dis e. -Entiio o troco? -Que troco? -O cão custa tres tostões, e como os cinco tostões são seus, tenho a dar-lhe dous tostões. O confeiteiro deu-me o dinheir0 e eu saí depressa. A 3-16'1.lns passos d'ali devorei o cão, era tão bom I Como as mãos tinham ficado sujas, tirei o lenço ; os dous tostões, que me dera o confeiteiro, rolaram pela cal– çada. Os dous tostões eram o reverso da me– dalha, ei.':.t a minha consciencia que acor– dava, era o remorso. Ao principio quiz fug-i.r. Depois parei, agarrei a moeda, e rolloquei-a no fundo do bolso com o len– ço por cima. Durante a aula não ouvia uma palavra ; os dous tostões queimavam-me a perna. Parecia-me que todos olhavam para mim. Sentia a cara a escaldar; estava sof– focado . Ainda foi peior ao sair do collegi o. Como havia de entrar em casa? Com o <linheiro, não me atrevia. Mas onde o h.;,via de pôr? Ao voltar para casa., sem sabel' o que de– .~~a fazer, vi n~a Igreja _aberta; entrei. Irnha a alma arnda cheia dos ing·enuos l)ensamentos que são a flor das almas no– v~s; commungarapelaprimcira vez, ha– v1_a_u_m anno. Passou por mim um padee. l>IT'11;1-mc ao confessionarío e e1le en trou. Cahl ll c joelhos, e fiz, chorando a confis- são do meu crime. ' O padre velho, de cabellos brancos não me respondeu . Saindo do confession'.ario pegou-me na mão, e levou-m,! á porta: unúo d.1.egamos, elle a correr cu a tre– mer. !'os degraus da Igreja e t'ava um ce– go. Omntc do cego um""º .. . verdadeiro du ·ôr m~110:; p1mn t....stica. -l\!eu menin0, disse o bom velho, Doos pcrd oa a q 11 cm dá. e ·mola. Dê os dous tos– õe que lanto 11csam na sua consriencia. Appressei-me a.obedecer, e senti-me al– li v~ado, - Estou desembaraçado d'esta moeda, mas a outra? - Comprehendo; quer que a encon trem na gaveta. - Sim, senhor, mas que hei de fazer? -Trabalhar. E' tempo de tirar um pre- mio ne collegio. - E isso fará com que obtenha uma moeda de cinco tostões . -Experimente e verá. Seis semanas depois tinha o premio. Minha mãe disse-me, abraçando-me : - Estou contente comtigo, pega. E deu-me~cinco moedas de tostão, exa.– ctnmente o que eu precisava; mas não er a uma moeda in teira. -1\Iãi, disse cu córando, não poderá dar-me em vez destas cinco moedas, uma só .•. de cinco tostões. - Posso. -Como eu subi para o quarto ! com qnc alegria colloquei a moeda no logar da ou– tra. l\fas n'essa mesma noute ella uesappare- ceu. seria magia. . . _ Alguns dias depois, v1 entre as maos de minha mãe ~m nov~ qua~ro . . _ Aproximei-me, e vi, che10 de adm1 raçao em cima a moeda de cinco to~tões, em baixo a de dous, que eu c~nhecla ber_n. -Comprei-a ao cego, disse-me mmha mãi. Não sómente acabava eu de ser corregi- do do roubo , mas ao mesi:no tempo ap- prcndêra O trabalho e a caridade. . Por isso digo q~ e se deve trata~ mais da instrncção ; cuide-se .9-a edncaçao mo– ral e haverá menos ladr oes t L P. e. ]R.013alia ou o ('OOEP. DO AMOfl FfLlAL. II. JERONi l\10. ( Continuação. ) As duas moças eram da mesrr:ia idade; porém muitos contrastes offerec1am seus caracteres e só se assemelhavarr:i por uma bondade e~trema. Victoria era viva, quasi sempre inquietf:l, sensi9ll em demasia, t nto a tdstaza como á alegria. Rosalia no con1 rario, sempre calma, ci_rc1;1mspec a , amava a solidão, era pacient1ss11na, o go– sava com moderação de todos os praze– res e distracções.
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