Estrela do Norte 1865
:1. l(!§TIU<:LL.~ DO .NOllTE. De sua :p_ar~e velava Margarida no curral, decorrido. A virtuosa viuva continua á na que1Jaria, nos fructos e na casa. Um chorar seu marido, porém o chora no si– admiravel cuidado os !:ornava aptos para lencio da noite e do dia trabalha com ln– fazerem m1trchar simultaneamente oc; in- crível ardor para reparar as desgraças do teresses tanto do interior como-do exte- passado. E' que Magarida; depois de ter rior. • nobremente cumprido seus deveres de es- Já tinham um filho, que sendo o obje- posa conheceu que deve boje cumprir os cto de uma ternura illimitada promettia de mãi. Sujeitou-se sem làmentar a um por sua gentileza e doçura tornar-se digno grande sacrificio. Rudhof, eàificado por de taes pais. seu marido passou as mãos d'outro propri- Assim corriam as cousas, quando em etario; e foi com grande difficuldade, que um só dia, uma rica messe, que era a a viuva obteve continuar habita-lo. com esperança e alegria de Reinaldo foi des- a metade da somma, que lhe voleu esta truida pela geada. O desafortunado la- venda, pagou ella as numerosas dividas vrador estava indisposto á algumas sema- contrahidas durante a doença do marido. nas e não podendo dominar sua emoção, Aproveitando-se do exemplo que lhe deu tornou-se gravemente infermo. Assusta- elle, dirigiu a herdade e lhe restituin o da Margarida pelo presentimento do pe- primeiro aspecto. rigo em que se achava o marido, não se Por uma constante doçura e muita per– importou de mais nada, para velar ao pé spicacia, diTigia seu filho José, pelos delle noite e dia. A doença de Reinaldo principis, que lhe tinham outr'ora incul– durou muito tempo, e sua mulher em cado. nada desanimava. No fim de seis mezes O Menino tem oito annos e é o mais per- entrou elle em convalença; mas ah ! que feito modélo de ternura filial. convalecenca l . . . . Os medicos não po- Mas, ah lJosé está definhando; sua saude deram dissimulará pobre Margarida, que vacillante causa inexplicaveis agonias á esta melhora não era mais do que uma pobre mãi. Oh ! que não teria ella dado cruel thisica. . . A dôr de Margarida foi para tornar a vêr nas faces do filho aquelle tanto mais profunda, quanto ella devia frescor que á pouco ainda o tornava tão occulta-la; e parecer Bssociar-se á espe- bello aos olhos de todos l rança, á felicidade que renascia no cora- José nunca se separava de mãi; a acom- ção de Reinaldo. panhava ao campo, ao curral e ao mercado. Pôde ella reconhecer então, que sua de- Todas as vezes que a piedosa mulher ia á dicação tinha sido talvez exagerada, se as- igreja seu filho a seguia e orava com a sim podemos nos exprimir. Não deixan- mais tocante piedade. EU.e dormia no do a pessoa alguma o cuidado de vellar em quarto de Magarida, e quando ella derra– seu marido, ella tinha esgotado as forças mava lagrimas pensando em seu mari– e alterado a saude. José, confiado a mâos do, José lhe dizia ternamente: estranhas tinha perdido sua docilidade e -Cara mãi, não estejais triste, eu sei o parecia soffrer. Aherdade se achava em que vos a.ffl.ige; vós quereis que meu pai um estado deploravel de desordem; os estivesse ainda comnosco; mas Nosso se– -campos se tinham tornado "incultos. As nbor o chamou a si porque o ama. Eu vaccas pelo descuido havido em alimen- nunca vos deixarei ; quando estiver gra - ta-las já quasi nã~ davam leit~ ; n? fim de e forte trabalharei com coragem e con– de tudo isto, ella vm a morte rnev1tavel tinuarei a vos obedecer. -de seu caro neinaldo . . . . Em prese1;ça Então Margarida enchugava os olhos, de igual transe não faltou s~a abnegaçao: abraçava o filho, e, olhando o pallido ros- 0 seu unico pensal!lento f?I oc~ultar ao to deste ente tão caro a sua alma, dizia enfermo o infortumo que ia deixar após como fa.llando comsigo mesma: ' . -O' meu filho, meu filho ... se Deus 51 • d · fi a 11 Durante dous annos o ren eiro cou no m? conse1:v sse sempre ... e e que era mesmo estado; jamais experimentou um m~nha_umca força, sem e1le, não setrre- desejo que não fosse logo satisfeito; e, rei a vu;la.. . · como são todas as pessoas ataca~as ~e -Boa mãi, exclamava ainda José que tltisica, elle tornava-se d'uma ex1genc:ia não compr~hendia o sentido das pal~vras desesperada. Reinaldo enfim succumb_m de Margar1da 1 eu vô-lo prometto, que brandamente, sem dôr, sem murmuno, sempre ~star~1 convosco. Para que diz;er sorrindo ao sarcedote, á Margarida e ao cousas tão tr1stes ? para que duvidar das menino José.. . . palavras de vosso filho? Quando nós tornamos a vêr Rudhof.com -Eu te creio, sim, eu te creio meu fl.- suas muralhas deslumbrantes de alvura e lho amado, respondia .a eôce mãi. Tu és .seu pomar florido dous annos apenas tem . demais bom para me deixarre.s só, princi-
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