Estrela do Norte 1865

& t:!H'Bt:LLA. DO lWOR'I'E. Refle..co s. 1'al é a coragem que inspira o pensa– mento das verdades eternas, quando es– tamos bem peneh·ados dellas. Alem dis– so, Deos tudo suavisa com a sua graça, e o mais arduos padecimentos se tornão faceis, pelo motivo que os faz soffrer com paciencia e offerecer ao Senhor. Aquelles que nos lastirnão neste estado, diz S. Ber– n~rdo, divi ão os espinhos, e não repa– rao nas rosas. ( Extr.) Carta sehre o rio 1Yla1leil-a. Hio Madeira, 28 de Setembro de i864. Illm. e Exm. Sr. Dr. Pompeu.-Vou des– cendo por este rio, de volta da ultima ca– choeira, agradecendo a Deos ter escapado de tantos perigos e incommodos. A traves– sia das cachoeiras, com os elementos de que dispunha, é por demais arriscada. Achava-me na quarta cachoeira quando alagou-se _uma canôa, perdendo-se quasi toda a fa:mha que levava. Fiquei reduzi– do a quatro alqueires ! Estando assim com a fome á bater-me á porta, deixei a carn')a maior nessa ca– choeira (Ribeirão) e segui escoteiro em outra menor, para o mais breve possível completar .ª ~unha missão, não perden– d_o-a e sacrif1c10 do governo se por infeli– cidade outra desgraça viesse a par da pri– meira. Em cinco dias, empregando gTan– de esforço, pude completar o trabalbo, ch_egando á ultima cachoeira ( Guajará– m1rln ). Lá em cima consegui dous alquei– res de farinha de milho e uma arroba de Carne, que, gratuitamente, cederam-me uns moços bolivianos. Na clescida, porém, alagou-se a canôa no salto do Madeira, perdendo-se metade da farinha. A sorte parecia caprichar em reuzir-me á fome l Achando-se as tres canõas que levava muito arruinadas, e temendo eu qual– quer desgraça na descida, que é quando s~ ~orre mais perigo, aluguei uma iibá bo- h v1ana. · Verdadeiro inferno é toda essa r cg iao elas cachoeira , onde o viajante tem sem– pre a morte diante - ou entre as pedras e correntezas - ou na ponLa da setta do mnJvado Caripuna. Estes índios acham-se nas cachoeiras mais perigosas, e CO$tumam assaltar os viajantes para roubarem, principalmente se a tripolação é diminuta. Quando naufraguei a primeira vez ap– pareceram elles em crescido numero, po– rém mostraram-se aITaveis por ver em muita gente. Assi1ri fazem os ba1:baros. São tão ruins estes indiosqne para melbor furtarem põem as mulheres núas na fren– te. Em roda do vin,iante formam ellas uma muralha, atras da qual furtam os homens; as crianças tambem teem o seu lug·ar no nefando exercício, pois são os conducto– res dos objectos furtados. Pedem tudo o que vêem, e mesmo o que não vêem; as vezes querem arrancar o proprio fato ; zangam-se quando não são sati~feitos, e assim se constituem um flagello igual ou peior que as cachoeiras. Quasi todos andam nús, trazendo as mulheres apenas uma folha verde sobre <2 distinctivo do sexo das iO horas da manha em diante, depois do banho. Nos dias de bebedeira, que é a sua festa, em ve~ de folha põem um pedaço de panno enfeita– do de conchas e pennas; pintam-se com urucú e nada mais. Os homens apartam o cabe~lo sobre a nuca envolvendo-o em uma tira de pan– no e atam á ponta do masso ~lgumas. pe~– nas de arára e papa"'aio · as tmtas de Jam– papo e uruch derra~ad~s pelo corpo com- pletam o seu ornato. . Na _physionomia dos homens vêem-se pintadas as suas más qualidades. Entre as mulheres ha algumas bonitas, mas no esta.do selvagem a mulher perde comple– tamente o encanto. Geralmente repugna a mulher selvagem Na cachoeira da pederneira a minha ca– nôa abalroou sobre uma pedra no meio do can~l. A velocidade era talvez de i2 mi– lhas I imagine qual não devia ser o meu susto 1 Tal povo não póde amar o traba~h 0 , A_mór parte do tempo é cor_isum~do ern orgi:is. no milho e da rnanclloca fermen– tados preparam uma bebida asquerosa chamada_ caxiry _ que é O seu constan– te elixir. A depravação chega a ponto de ve~derem os homens as mulhe1es e pro- p~10s filhos ! Por amor da verdade devo dizer-lhe que O estado em que se acham estes desgraçados é devido ern grande parte ao contacto dos viajantes de Matto– Gro..sso Em meio de um turbilhão, vi a. morte bem perto, ma uma mão bem fazeja sus– pendeu a canô::i e salvamo-nos milagrosa– ~ en~": f\'..ln,:; ·anôás mais alagaram-se no füb tr~_o e uma e teve qn asi perdida no Caldei, u.o do Infenw, ciue n ão desmente o n ome. O costumo de venderem as mulh_eres tambcm teem os Maués. Nas outras tr1b11s que tenho obs~rvaclo ainda n ão encontrei uma tal monstruosidade. . Os Pammus avisinham-so ao car1punas..,

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