Estrela do Norte 1865
A Oração ó o primeiro e mais indis– pensavel alento da vida christã. « Os ho– mens, diz o conde Maistre, oraram sem– pre o em toda parte n . (1) A traclicção universal elo genero huma– no, o a revelação divina nos faz em vc1• líUH este aclo religioso é uma necessidade e um dever. A universalidade da oração é, com offoi– Lo, a prova irrccusavel do sua oficacia o ele sua ligilimidade. Os pagãos oravam; mas que cli lfcrença da oração pagan comparada com a ora– ção christan ! auzencia completa d? ele– mento moral, exclusivamente dmrnnada pelas preocuparões materiaes, tal era a oração pagan. . .Messes, et bonct vina, (2) fol izes colhei– tas e bons vinhos, ora a supplica que saI{ia a cada ~110mento da bocca dos devo– tos do pagamsmo. Nos oscriptorcs latinos e gr_egos que che- garam até nós se aclrnm muitas formulas da oração pagan. Na epoca mesmo em que aoraç5.o dominical era ensinada pelo christo aos apostolas, oração que resume admiravelmente o Evangelho, e q~e ó a expressão mais completa das n ecessidades tanto espirituaes corn o corporaes ~~ _ho– mem os lavradores do Lati um dmgiam á cor~s e á Terra a oração seguinte; u o· poderosas deusas, vós que_ d~s- truistes a antiga barbaria e substituis– <' 'es ao caroço do carvalho uma melhor (( L e - " . S <e o mais doce alimenLaçao, u1qnae-yo <' encher de vossos dons sem medida o lD– « saciavel lavrador, afim de que uma « digna recompensa lhe pague seus s1 0- « res. _ « fazei que a tenra sement~ n ao ces~e « de crescer , e que a erv3: vuente n ao << seja surpreendida p elo fno moi-:tal das « neves. Quando semearmos abn o céo « aos ventos que o purificam, e daechuva~ " bemfazejas ás smne~Les que depomo~ <<soba terra. Protegei contra as avos de « rapina os campos cobertos de vossos « thosouros ». (3) , . . é A oração conti~ua arnda n este tom,. bastante este spec1mon para nos I?ostiar o puro materialismo que nellas rema . . Em Horacio encontramos uma outra. u Que peço eu ao céo ? diz elle a seu ami– « goLolÜus. Que me conserve o qu_e tenho << hoj e, menos, se assim for preciso; que (1) Soirées-cle S. Petersbourg. t,me. tien . (2) Tibulle. 1.° liv. dns Eleg. 1 V, 24, {3} Ovídio. Fasf() • I v. 575-596, 139 (( eu viva para mim o que me r es ta do ,, vida; boa p1·ovisão de li\'l'os; trigo para (( um anno, eis tudo o que poço a J upi– (( Ler. Quanto ao que toca a meu o pirito, (( cu mo oncarrEgo >> . (4) O poeta latino, como se vê, só pede o bens terrestres, quanto á virtude, elle se encarrega, todo mundo saho como. O sensualismo pagão n ão podia prod u– zir outra. cousa, o ::cocrates tinha razão quando, styg maLisando esta maneíra im– moral do se dirigir à divindade, dizia que Deus mesmo deveria vir cn inar aos ho– mens de que maneira deviam orar. A oração é a expressão viva o pratica das doutrinas r elig iosas que inteiramen– te se traduzem n essa elevação d'alma para a divind ade. Ohomem falla a Deos segundo as idéas que delle t om, e essa linguagem do coração ó o mais seg uro testemunho de sua fé. A oração se eleva ou se abaixas g undo as crenças que a inspiram. Quando uma r eligião t em icléas g-rosseiras sobre a. di– vindade, a oração se materialisa como ella; supplica, ou acção de graças, tudo, se refer e ás necessidades do corpo o aos bens da terra. A,l contrario que a. id éa do Deos se des- embarace do falsas r epresentações e se purifique no entendimento hu~ano_, .ª oração toma logo u m caracter mais esp11·1- tualista e roais moral. Basta comparar a ora.ção dos pagãos, egoísta e sensual, com a oração do anti gó testamento para con– trastar a superioridade do mosaismo sol.lre a r eligião d~s greg(?S e rom~nos. (ti ) o o-randei Homero, quas1 contempora– noo de Salomão deixou cahir um clarão sohre sua mythologia na famosa invoca– ção que todos admiram: « os deuses mesmo~ se deixam tocar . . . Todos os d ias os homens depois de têl-os offendido, alcançan~ g~açá p?r m_ei,o de vo– tos presentes, sacr1fic10s, llbaçoes e ora– ção~. As orações são filhas do grande Ju– piter . . . . n (6) Mas esse fraco g·ermon de invocação antiº'ª tornou-se com a vinda. de Jesus a gran°de arvoro da verdadeira oração. B o Evangelho proclamou desde então, de uma maneira indubitavel a força Omni– potente dessa arma , que um dos g randes Bispos do nossos dias qualifica como : u um grande testemunho de nossa fra– queza tornando-se no pobre e fraco co- (4) Liv. I daslEpist. I v 102. (5) Froppel, Profess. d'Eloquencia sagrada na Sorbona.- (6} Home1•0. Iliarln, crinto IX v. 40fi-512,
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