Estrela do Norte 1865
tlH ,1. ESTRELI..A IJ8 NORTE. - Agradeço-te sinceramente, nosalia, exclamou Jorge com alegria; e correu a mostrar o ramalhete a mãi. Rosalia le– vantou-se tambem e foi levar o seu a Je– ronimo. ,las que espectaculo so olierece aqui ao olhar contristado e tão opposto â inno– cente união destes dois meninos que co– lhem fto;res, e fazem dellas o emblema de seus gratos sentimentos. Diante d'u– ma mesa coberta de frascos vazios estão assentados Jeronimo e Nicolas. Seus olhos estão scintillantes e as faces intlamma– das. Ora se ouve um grito de alegria sel– vagem, ora uma blasphemia horrível, segundo o acaso favorece ou não estes miseraveis jogadores. Todas as pa,ixões se desencadeam. Ao lado de Nicolas, sua mulher Perpetua, enche constantemente os copos, e com os olhos atte ,nt.os consi– dera a marcha das cousas. Depois de muito tempo Jeronimo per– de. A furia da paixão lhe rouba todo o sentimento rasoavel e tdiscreto ; obsti– na-se no jogo, apezar de ter já empenha– do o ultimo vintem. Logo, uma mula que comprara outro dia, e que carrega– va a pobre Rt, alia durante longasjorna– das, é jogada e perdida. Nada dotem es– te homem criminoso: .passa tambem pa– ra o lad<t de Nicolas a guitarra, o· unico objecto que lhe restava. Neste momento entra Rosalia, que com alegria infantil, -o:ffereoe o ramalhete ao Pai. Jeronimo a repelle furibundo. A pobre menina já ia retirando-se; quando o pai exclamou : - Alto 1- e ao mesmo tempo lhe tira com agitação do pescoço uma pequena cadeia de prata. - Em quanto ava1ias isto, Nicolas? dis– se elle lançando a cadeia sobre a meza. - N'um florim, responde o adversario, e passa a cadeia para o pescoço da mu– lher. Perpetua, accrescenta elle com um riso sardonico, eis uma lembrança de Jeronimo; guarda-a para ti. Com o coração dilacerado de dôr olhou lloEalia para essa cadeia herdada de sua boa mãi, e que então passava ás mãos d'um extranho. clamou Jorge, pondo-se corajosamente ao lado da menina ajoelhada. o barbaro Je– ronimo repellio grosseiramente a Jorge, e aproveitando-se Nicolas desta circums– tancia passa o an:il ao dedo da mulher. ( Continúa. ) Porque muitas 1;essoos llones– t:as niio eun11,re1u. s eus de,,e– res relit,~OSOl!lo E' um facto tão verídico, quanto lasti– mavel, que nas nossas cidades, e tambem nas nossas villas, existe uma multidão de homens e mulheres muito honestas, de uma probidade inalteravel, dotados de coração bondoso, cuja vida é tranquilla e regular, mas não cumprem seus deve– res de christão. Elles rezam com certa exactidão ; ao m~nos muit-os guardam esta fidelidade : eHes não zombam da religião, defendem-a pelo contrário, quando é preciso; vão á missa aos domingos, abstera-se de carne nos dias prohibldos pela Igrej a, e tam– bem alguns que voluntariamente guar– dam ; dão um verdadeiro apreço aos cui– dados da religião, a quem a educação de seus filhos estâ confiada; disvell~m-se muito pelas primeiras comm.unhoes ~e seus filhos, por quanto dinhmro ha nao de!ejariam morrer sem Sacramentos, sua vida _pàrece irreprehensivel. uma só cou– sa lhes falta,: elles não se confessam e rtão commungnm. sel'á isto um grande mal, logo que fl;S demais obrigações são fielmente_ cumpri– das? Sim, um grande mal e muito gran– de. Um navio, preso na praia por uma corrente de ferro torna-se o ludibri? das ondas e perde toda a sua segurança, s1 um só annel desta corrente vem a quebrar– se. Deos é o nosso Sa,lvador no meio d<?s perigos da vida e das borrascas das pai– xões; a cadeia, que nos liga á elle, .e çi_ue por consequencia nos salva, é a r elll_ã1ao; e como a cadeia a r eligião se compoe de u'ma continuaçã~ de anneis de uma quan- Não satisfeito com isto Jeronimo, e ven– do brllhal' no dodo da filha o annel que Veronica nelle confiou no momento da ~ orte, arranca-o, e com olhos chamme– Jantes o atira na cara de Nicolas, Então lanç~-se a _m~nina aos joelhos do pai, e commexprmuvel accento de dôr supplica– lhe (file lhe deixe aquella ultima leml)ran– ça do sua mãi. Mas os ouvidos e o coração do JO'ronirno fl ·um surdos a taes suppli– cas. tidade de obrigações que formam um to– do completo e fortemente ligado entre si. Quebrar um só annel, violar um só pre– ceito da religião e separar-se de Deos, é perder a vida d~ sua alma, é despresa-r a sua:"salvação eterna. Ora a obrigação, para todo o christão, de se confessar e commungar, ao menos umo. ve,z ea-d:a , nnu, é uma lei absoluta e 11igorosa , cuja violação é pecçado ~or– tal. Logo, qualquer que sP,ja a integrida– de do resto da corrente, est e annel vindo - Hasde deixar este anel a Rosalia, ox-
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