Estrela do Norte 1865

.1. ESTBELLA. DO NORTE. que Simonides, de mais suave pratica que Xenefonte, maiores philosophos que Pla– tão, e maiores mathematicos que Eucli– des, vão errar em cousas clarlssimas, e tendo alto engenho para as cousas do cor– po, carecem delle para as que tocam a al– ma. E toem nisto tão obstinados e aferro– lhados os corações, que não entendem quão damnosa é a vaidade, e quam peri– gosa a prosperidade do mundo, e quam p~uco fundem as coucas, em que nossos vaos pensamentos tão sem fundamento se occupam. --: l'lluito f~lçu~i, disse o preso, de vos OJ!Vlr essa h1scon~, crede que os homens hao de correr mmtas terras, e ver muito para saber muito. Grande enveja tenho a esse ermitão, prouvera a Deos que tanto fructo fizera a tribulação em mim, quan– to fez nelle. Eu até agora tive por cousa má a tribulação, mas agora vejo que ha nella todos esses bens, que tocastes. Não parece senão que com essas rasões que al– legastcs , se me tirou um véo diante do en– tendimento. l"r. HECTOR P1:.TO. O Pranto. Muitos ha que aos soluços lacrimosos e aos suspiros acompanhados de amargoso pranto, em vez rle uma lagrima de com– pai xão, respondem com um sorriso nos labios e um ar puramente escarnecedor ; e para os quaes é antes o pranto a r eve– lação sensível do estado, fraquesa de nos– so animo do que a sensação irresistível do estado doloroso de nossa alma: é um engano. O pranto ó umae[usão de sentimento, necessario para aplacar as tempesta des de nossa alma, eao mesmo tempo desaba.far as impressões fortíssimas que a afflicção produz na sensibilidade do homem. Não ha homem que não tenha experi– mentado, ou não deva experimentar, ao menos uma vez na vida, as inefaveis do– !;uras do_ pranto ; ellc, que no correr da exIStencrn, _tem do pagat· o tributo com– mum o obr1gatorio ás miserias desta vi– da. l\las é preciso fazer excepções. Assi:n como na ordem phisica existem desfigu– rados abertos, fóra das leis geraes que re– gem os demais seres, assim tambem na !)rdcm_m9ral encontram-se alguns entes 10se~_s1v" 1 ~, corações serni-ruortos, á quem os pxantos da desventura não impressio– nam mais que a frifisa do marmoro. O pranto, tomado como effeito de inti– ,nos pezares e de profundas dôres, é tão sublime e respeitavel quanto o pode ser a suprema desgraça. E de facto: Aquelle que viu tombar no occaso o astro das fa– gueiras esperanças, nau ta arremessado ao furor de embravecidas ondas., que põe o alvo de sua ventura no derraaeiro ace– no do anjo exterminador ... Aquelle qul:' se vê atraiçoado por um delator infame, que, para inculcal-o por um monstro, finge cri inalidade nas suas acções ; ac– ções abençoadas por Deos, como uras e innocentes; mas que o publico inexora el escreve para sempre no livro negro da re– provação; Aquelle, em cujas faces se descobre o véo mysterioso da tristesa, a sombra das commocões que se levantam nos arcanos de seu espírito; que ao despontar da vi– da, precipitado na desventura, sentiu a mocidade correr como a ligeira torrente no inverno, arrastando penedos nas aauas turba– das, ou queimar-se em breve nas fragoas do desgosto ... esse, digo, ainda com os olhos humidos, não considera as lagri– mas do pranto senão como fonte benigna de suaves consolações. Precorramos a historia, e ahi veremos, desde as eras mais antigas, quantas vezes o poder do pranto tem alcançado a pal– ma do triumpho para a humanidade. Que seria da republica Romana, afundada nas rui nas e miserando<; estragos, quando os Volscos se preparavam para riscal-~ do rol das florentes nações, se as lagr1mas da propria mãi não abrandassem os fu– rores de Coriolano, revoltado contra a pa– tria? o príncipe troyano, que via consterna- do o corpo de Hector arrastado tres vezes em roda das muralhas de Troia, de bal– de o supplicaria, se o poder ~e suas ü_1.gri– mas não internecesse o fur10so Ach1lles. Mas para que citar profanos exemplos? o proprio Salvador, que, durante a sua vida mortal, permittio algu~as veze.s ql!-e seos olhos divinos dessem livre cmso as lagrimas quiz com tão sublime eX;emplo que o pranto fosse olhado como a hng-ua– gem do sentimento; e que o h omem, la– cerado pelos espinhos da desgraça, be~– dissesse o conforto e a doçura das lagr1- mas. Em conclusão, admittimos que em vez de ser um mero effeito da fraqueza do animo, é do contrario, o pranto, p~ra o christão um signal sensível de resigna– ção; __para o peccador uma prova de ar– rependimento, e para o desgraçado o bal– samo que sua.visa e conforta as magoas do coração. o Seminarista ANTONIO VICENTE MAGNO,

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