Estrela do Norte 1865

UIO .4. ESTllELLA DO ~Oll'.l'E, õava, porque vós dizlcis que está em sof- gar solilario, onde se fazia um pequeno frer, e eu punha-o em folgar, vós na ad- valle coberto de tão diversas hervas e gra– versidade e eu na prosperidade, vós na ciosas flores, que me estiveram arrebatan– v ..rtude e eu na opinião: em.fim, que se- do os olhos que vissem aquella formosura. gundo vou entendendo, a verdadeira glo- De maneira que me detive um pouco e ria consiste no desprezo da falsa gloria, estive contemplando aquella singular fu– que bem assomado consiste em deixarmos peçaria, aquellas cores excellentes, aquel- 0 mundo e seus enganos e abraçarmo-nos le cheiro natural, aquelle maravilhoso ar– com Christo nosso Deos, soITrendo por tiflcio da natureza, e a formosura e diver– amor delle todas as tribulações. sidade das cousas que a terra criava. Veio- - Essa é, disse oamigo, a verdade. Dous me então á memoria aquelle dito do anti– dias que aqui temos de vida, para que é i;o Ennio 1 que chama á terra Minerva, e o senão para darmol-a á quem nol-a deu? de Vergilio, que lhe chama Circe, e o de Ainda não vi homem a que tanta inveja Lucrecio, que lhe chama Dedala. Ecome– tivesse, como a um da Sicilla, que achei çando eu a subir para ir ter ao caminho em rtalia, tão esquecido das honras do que hia pelo cume da montanha, d'onde mundo e sorvido nas lembranças deChris- descia para a outra parte, vi um pedaço to, que mais parecia divino que humano. de casa por entre uns altos penedos, e des - Em que parte, disso o preso, achastes terminei s~ber o q~e e1:a, Cá como osta– esso homem, e como viestes dar com elle? va longe nao a podia divisar. Mas com a - Eu vol-o contarei se vos não enfadar- saudade que levava dos companheiros, des. indo assim para a casa, olhava muitas ve- - Antes, diz o preso, desejo muito de o zes para o mar virando os olhos para onde ouvir. os guiava o amor. Eno proprio tempo em -- Embarcando cu em Barcelona com que eu de todo alcancei a casa de vista, a outros passageiros, disse então o amigo, perderão de mimos mareantes engolfados tanto nave amos pelas duvidosas ondas no mar, e eu metendo-me por um alto e do mar mediterra11eo atravessando o gol- sombrio arvoredo. Eindo assim quiz atra- (ão de Lião, que em poucos dias vimos ter- vessar a ribeira, que por ser muito funda, ra de Halia: e indo ferindo com os duros por nenhuma parte podia passar-se da remos as salgadas agoas do pego Ligustico outra, senão que fui topar com uma_gran- á par de Genova, fomos topar com um na- de arvore, que sobre ella jazia derr1barla, vio, do qual eu sube taes novas, que me que parece cahiu alli com a força dos ven-:– foi necessario dei xar a companhia, o que tos, a qual me serviu de ponte; e passei ou fiz com assaz saudade. Sahi logo no avante. E chegando a cac;a vi que_ era er– areal e fui só por terra em certas causas ne- roída, e entrei dentro sem achar mn~em cessarias que eu não digo porque são ellas senão um devoto Crucifixo n~um i ª t 1 ar longas de conlar, e não vem agora a pro- bem concertado, a que fiz o!açao. E a n– posito: basta que me fui eu por terra. E da que a ermida estava mmto pobre, to– era isto, onde eu sahi ao pé das altas mon- davia estava limpa e varrida, e ~rnada tanhas de Genova, onde o mar tem feito com alguns ramos de murta e loureiro co– grande~ furnas: e comJo tom das ondas, mo cousa de festa. Na parede da m~o di- e o rugido do vento, que se metia ore- reita em entrando estava u~ letrei_ro do tumbava naquellas concavidades, junta- Psalmista que dizia: u Qm semmant mente com o meneo das arvores, que por in lacrymis, in exultatione metent. » ~ entre aquellas rochas havia grandes, e em na da esquerda outro de s. Paulo que _ di– algu112as partes tão espessas que impediam zia: u Mihi vívere Christus est, e_t mon lu– a.o chao_ com suas ramas a claridade do crum ,, e sobre a porta da. ermida estava sol, fazia-se uma armonia tão concertada outro do mesmo ermitão em_ s_ua ling~a– que me acrcscen~on a saudado daquollcs gem, que tornado na nossa dizia: 1 < A vida meus companheiros grandes meus ami- quo sempre morre, que se perd~e em 9-ue gos1.. que biam ~a náo, que se ali de mim se perca? ,, Depois que :fiz oraçao, e _h os e n~o sem lagrimas ~partaram. Eu era- letreiros, e contemplei a ermida, sahi_-me lhes em ex tremo! afl'o1çoado péla virtude, para fóra para ver se achava quem alll po– r~tra.s, 0 engenho, que neUes via, e olles zera aquelles ramos, e fui dar coro uma ti~h~~-me a mesma afl'eição por alguma grande arvore nmito velha cercada~de tão opimao, que tinham do minhas coúsas, forte era, que lhe fazia com que.se nao des– quo ~cndo pequena$, tinham elles pol' fizease, a par à.-a-q_ual se via a mo~tanha grn1; .:", V;rqu , as viam com os oculos da até uns altos pinaculos onde se h1a aca– a[eiçao. E en trando eu por entre uns bar a vista d'uma band& e da outra se Via altos ro~hcrlos ao longo d'uma ribeira o grande filar, por que se estendiam os quo descm da serra, fui dar com um lu- olhos até onde podiam com avista abril.n-

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