Estrela do Norte 1865
il E~TRELLA DO NOH 'f E , sigo mesmo qual seria o destino de sua filha, se a Deos prouves e pôr-lhe termo aos tormentos e chamal-a para o descan– so eterno 1•••• E entretanto sua abnegação, os senti– mentos de seus deveres eram tão grandes que, apenas via abicar na yraia a barca, ia affectuosamente com a filha ao encon– tro do Jeronimo, comprimentava-o pela boa volta, e o aj udava a ilesembarcar as redes e a pesca. ll osalia beijava timida– men te a mão de seu pai, em quanto Ve– ronica corria a preparar-lhe outras ro u– pas e a cêa. Todas estas provas de sympathia, que tão preciosas são a uma alma crente e sensível, eram com impaciencia recebi– das por Jeronimo. Depois de comer sabia elle im rnediata– mente, e reunia-se a companheiros tão perversos como elle, com os quaes passa– va as nou tes na devassidão e no jogo. Ah 1 ah 1 como não se partia de dôr o co– r ação da infeliz Veronica ao vel-o en tão ausentar-se ! Assim era qu e durante do– ze annm, ~avia esta mulh er supportado todos os dissabores d'uma u nião desgra– çada. l\Jas sua força moral, que se man– tinha sempre, não tinha pod ido conju– rar o abatimento das forças phisicas. Um dia, tendo Veronica ido huscar le– nha no bosque visinho , e vol tando peno– samente carregada para a cabana onde tinha ficad~ a filhinha , aconteceu 'trope– çar no cammho, e cahi u desfallecida ... levaram-na para casa n'um estado in– qnietador, e quasi sem signaes de vida. Em breve pediu os soccorros da religião, que lhe foram pr omptamento mi nistra– dos ; e com sentimentos da mais edifi– cante resignação r ecebeu e1la seu Deos. . A' larde chegou Jeronimo da pesca. A' vista da pobre mulher moribunda. seu scmblante 1 no qual se lia apenas carran– cuda fcro c ~da.de , ou uma alegr ia sel va– gem, cxpr1mm então pela vez primeira depois_de~ muitos annos, um sentiment~ d~ affücçao profunda. Com terror prece– pitou-se elle sobre o leito, e com os olhos u~terrogon a moribunda. neu niu Vero– m rn. toda a sua en ergia e disse ao mari– do palav_ras consolador a's ; depois, faz~n– do-lhe s1gna~ de assentar- se empreh cn– deu urna ~lL1ma tarefa. - Jeronrmo, lhe disse ella h umild e e atTectu o~~mcn te, Oeos me chama par a i ... ~~u de1xar_ o mundo ! . . . mi nha vida !? 1 n ~:i. S"ric co nti nuada de dôres ! .. . 1 n bc~ · ahes a causa, Jeronimo . . . Eu de nacla Lo rensuro .. . agradeço-te oodo o bClI.l qu~ me tens feito . . . com a mes– ma srncerrdadr te pordôo tudo o que te - nho offriclo. Orei inccssan temen te a Oco. para que te fossem perdoados os teos pec– cados ... Jeronimo, é com um sen timen– to de indisi \'el pesar que vos deixo sós, a ti, e á minha Rosa1inl1a, essa menina qu e me tem sido alento e consola ão nos sof– frimentos. Jeronimo, tenha p1edade del– la e de mi m, s~ja u m bom pai para no sa filha I Só tu lhe restarás n este mundo .. . e tão creança ainda ! Preserva- a do vi– cio ... guarda sua innocencia ... Oh Je– ro nirno ! ama-a como a meni na de teos olhos, e nunca te separes d~lla 1••• Jer:o– nimo, Jeronimo ! eu te conJuro, tem p10- dade de nós, e pr omette á tua mulher moribunda cumprir o seu pedido. O pescador comm?vido in~imam P:n te~ o prometteu a Veromca. En tao, cheia de esperança, continua a piedosa mulh er : -Jer onimo 1 sabes que t ua mull10r não seria capaz de mentir n este terrivel momen to da morte? Pois bem I é um,~ dôr uma anciedade cruel que trago ca no intimo do cor ação, e cuj a intensidade se augmenta ainda n a hora de nossa ~e– paração 1 E a tua salvação, Jeron~mo, sim a tua sal vação é a cau sa desta dor e cle_s– ta anciedade ! . .. A vida que p assa~ n 3:o conduz ao céo ; tu nunca oras ; so vais á igreja quando és obrigado; en~regas-te á embriag uez e ao jogo · vives n uma so– ciedade de gen te corrodipida, com a qnal dissipas o fructo de teu t rabalho ; com gen te que te faz perder a h onra, a ale-– gria interior, e a graça de Deos 1. • • Oh 1 con verte- te, Jer onimo, conyerte- te em– quanto é tempo ainda ! Deixa esses h o_– mens depravados · lemb r a-te dos sollri– men tos do nede~p tor 1• : • Abre tu a ~l– ma á oração ... Promet te isto a u ma tris– te victima que com tan ta ternura t e ª1!1 º~ sempre ... Vê como o t error me agita · Jeronimo , abranda-me as dôres da m~r – te . . . Oh ! por nossa filh a, promette-m 0 , e dá-me a mão em signal de paz : , Jeronimo logo lh'a deu , e Verornca ~pei – tando- a entre as suas com a expressao da mais supplicante bon dade, lanço?- sobr~ elle um olhar penetr a nte e contrnu ou · - Jeron imo ! Jeroni mo ! vo! ta para Deos l conver te-te ... J\lasoimp10, endu– r ecido no crime, ni:io devia converter-se , e não podia supportar o olhar da pobre mulh er agonisante. . Penetrado de t error , re tirou v1ol ~nta– m ente a mão..ilil de Voronica, e sah 10 ia a bana. Chamou- o a infeliz , e qu~n o viu que todos os seu s esforços eram_mu– teis, calüu dcsfallecida no leito, dizen– do: - Oh .Jesu s , oh meu neos ! mi sericor– d ia para el1 e 1 • •• perdoai- lhe, e d eixai-
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