Estrela do Norte 1865
& ES'l'RELLA. DO N01ll.'..1'~. 107 r~sto. Prohibiu á minha fam ilia que me viesse ver. Pelo meio dia o magistrado trouxe dez ligaduras, depois ajuntou cinco e dis e aos chel~s da_ villa: u8e alguem puder persuadir a Cao que abjure dou-lhe isto em recompensa. uSe alguem puder per– suadir a Cáo que apostate dou-lhe estas vinte ligaduras. n Ninguem o conseguiu. Finalmente, um dos chefes veio dizer-me: uTu dizes que o teu Senhor te assiste, co– mo é isso se elle te não poupa uma uni– ca paulada? Vê-se o teu sangue correr e u tua carne cahir aos bocados. (( Respon– di-lhe: u A graça qne omeu Senhor Jesus me dá é toda espiritual, não se podo ver nxteriormente. ,, Em seguida pediu-me que deixasse a minha religião, e prome– teu-me que das vinte ligaduras me daria quinze. Respondi-lhe : (( Procurai antes ganhal-as todas ; quinze ligaduras não me enriqueceriam ; ficaria tão pobre co– mo dantes. n Disse-me: u Tu és um insolente. n De- pois retirou-se. A 24, o magistrado disse-me: uE' ver– dade qne os christãos te prometteram dar uma ligadura por cada dez pauladas? n nespondi-lhe: « Não, isso não é verdade. ,, Ellc accrescentou: uPede aos christãos cem ligaduras para mim, e eu te manda– rei embora.,, Eu lhe r espondi: E'-mo im– possivel obter essa somma. 11 Elle dimi– nuiu metade. « Eu não posso achar quem me dê cinco sapecas, quanto mais cin– coenta ligaduras. n Todos aquelles que entravam para casa do magistrado di– ziam-me: « Então, grande_padre Cáo, co– mo vai isso ? O que tenc10naes fazer? » Eu punha-me a rir. Davam-me este no– me por ironia, fazendo allusão a Monse– nhor Borie, que foi executado em Dang– boi e de quem se conserva ainda hoje a lem'brança. Sua Grandeza chamava-se tambem Cáo. A25, os chefes da villa ten– do apanhado um desertor, tiraram-me a cano-a que havia vinte dias que trazia, par: 1h'a porem. A' ta!de, amarraram– me fortemente pelo me10 do ~orpo a uma columna e pelos pés e maos a outras duas; e só depois de tres horas é que me desligaram. A 26 o magistrado mandou fazer ou- tra ca-dga para mim; e intimou-me de novo que apostatasse; e depois m'.1ndou buscar uma maca para me conduzuem a casa do prefeito. . A 27 tendo chegado a maca, o magis• trado disse por ironia : « Vamos lá, gran– de pad-re cáo, levant ai-vos e partamos, _a maca está prompta. >> Durante o cami– nho, disse cu a um dos apostatas, cha- mado Meô : uTodos vós pizastes a cruz : agora deveis re.parar diante do manda– rim o peccado que comettestes. ii Elle me respondeu : « Eu sou muito fnco; não tenho força para supportar tantos tor– mentos ; o bom Deos vos as istiu até ago– ra, procurai perseverar ató ao fim. n Quando cheguei diante da prefeito, perguntou-me elle onde estava minha mulher e meus irmãos. Respondi-lhe : « Não estão longe d'aqui." Depois accres– centou: « Afiai os sabres; cortem-no em tres pedaços, e deitem-no ao rio. ,, Eu respondi-lhe cm voz alta: « Ainda bem !u O magistrado, dirigindo-se ao prefeito, disse-lhe: ,, Grande mandarim, elle atre– ve-se a fallar assim na vossa presença; como rtos temeria elle? ,i Então um dos satellites do prefeito, to– mando uma cruz, disse-me : « Caminha sobre esta cruz 1" E ao mesmo tempo quiz collocal-a debaixo de meus pés ; mas eu recuei. No mesmo instante mandou-me amarrar os braços a uma canga, e um soldado agarrou-me pelos cabellos, dois outros pela extremidade da minha can– ga, e mais dois pelos rins; em quanto com uma vara me batia no pés ; arrasta– ram-me deste modo sobre a cruz. Eu ex– clamei: uViolentam-me; eu não quero caminhar sobre a cruz I n Então o prefeito ordenou a tres apos– tatas que estavam presentes que cami– nhassem sobre a cruz, para que eu os imitasse ; o que elles fizeram ; mas eu recusei seguir este exemplo. o prefeito ordenou que enterrassem uma estaca no ch5o e que me prendessem pelo pé es– querdo ; dois soldados agarraram no meu pé direito esforçando-se para o levanta– rem e collocaram debaixo a crui, mas eu resisti com todas as minhas forças, e elles não puderam conseguir o seu inten– to. Em despeito, torceram-me os pulsos e partiram-me o artelho; finalmente con– seguiram metter a cruz debaixo dos p~s; mas eu protestei dizendo: u Que este pec– cado caía sobre o grande mandarim e sobre vós; eu por mim estou nelle inno– cente. n o prefeito disse : uNão está-qi,á esta, el– le apostatou, e deita esse peccadt sobre mim ; desprendam-no e expulsem-no da minha presença. » A' tarde, fecharam-me n'uma casa vi – sinha; prenderam-me os braços á minha canga em fórma do cruz para me cança– rem ; deixaram-me nesta posição pelo es– paço de duas horas, e depois tiraram-me a canga, e deixaram-me dormir uma ho– ra em paz. A 28, os chefes da villa intimaram-me
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