Estrela do Norte 1865

& E8TRELL.& DO NORTE. 85 Pedro, muito joven ainda para resistir á esta influencia de todos os dias, per– deu-se outra vez. Asua conducta não era boa, mas não era tambem criminosa, por que no fundo de seu coração elle era bom; nascido para amar a Deos, elle seria um bom christão, se tudo o que ouvira dizer não o tornasse prevenido para com o,: padres, e com o que elles dizem. Em surnma elle conhecia que obrava mal; era por isso desgraçado, mas faltavam-lhe as forças para tornar ao bem. Ped ro casou-se; desposou uma moça gentil, prudente, piedosa, amante do tra– balho, economica, e portanto muito feliz. Uma só cousa a mortificava, era que Pedro não a acompanhava á Igre– ja; a Santa Virgem muitas fervorosas preces ouviu de seus labios, para que con– vertesse seu marido, o que ella esperava impaciente. dro não recuou do seu intento, subiu o parapeito e precipitou-se subitamente. Elle ao principio ficou atordoado e en– torpecido pelo frio, mas, passado pouco tempo, a reflexão voltou. Mil idéas lhe occorreram repentinamente. Parecia-lhe que caminhava direito para o inferno, que sua mulher o conjurava para não suici- dar-se, que Deos lhe pedia contas do seu crime; elle comprehendeu finalmente que estava condemnado, que elle devia ser enviado á habitação dos máos, no en– tanto que sua mulher ficaria longe delle na habitação dos Bemaventurados. Haviam decorrido quatro annos que Pedro estava casado, e amava verdadei– ramente sua mulher, quando uma horri– vel molestia a arrancou de seus braços em tres dias. Imagine-se a sua dôr l Primeiro elle não podia crer na des– graça acontecida, não a comprehendia; .sonhava que sua mulher partira por al– guns dias, mezes, armes talvez, mas que -certamente voltaria. Acompanhou o feretro sem verter uma lagrima, estava unicamente abatido, em nada podia pensar. Passados quatro dias, a realidade foi conhecida; elle chorava, gritava, arran– cava os cabellos, batia a cabe_ça ?Ontr~ a parede dizia palavras sem s1gmficaçao , emfim 'estava como um louco. Era na ver– dade bem desgraçado, elle que não tinha Senhor a quem offerecesse ~ua dôr; elle que não cria em Deos, que Julgava tudo finito que pensava não vêr sua mulher jámai's I que todo o laço entre elles esta– va quebrado para sempro! 1 Pedro não podia supportar a dôr que o possuía e estava resolvido a suicidar-se. Uma ndute elle dirige-se yara_ o Sena; chegou á ponte das Artes a mei3: noute, porém viu que ainda se transitava, _e apartou-se d'ahi; desceu até o Pala1s Royal, onde observou muito tranquil]o as ultimas lojas abertas. A sua resoluçao para o crime era tal, que elle estava per– feitamente calmo, e esperava sem impa– ciencia o sem agitação que o momento chegasse. Eram duas horas quando elle voltou-para a ponte das Artes. Olhou ao redor do si e não viu pessoa alguma. Es– lava-se no inverno, um vento gelado so– prava fortemen te, e a agua estava tão fria, !Jue só de vêl-a fazia gelar o sangue. Pe- Todas estas idéas passavam em sua mente rapidas, como o raio. Então pro– cura salvar-se, mas o frio tinha-o entor– pecido e já sentia que a morte se apro– ximava a passo largo. « Meu Deos l ex– clamou elle, tende piedade de mim. Eu serei condemnado ! Minha pobre mulher, que não te verei máis. » Suas forças abandonaram-no ; elle lan– çou um grito desesperado e entregou-se á torrente. Neste momento sentiu-se fortemen– te preso pelos cabellos, agitado em todos os sentidos, e viu finalmente um corpo, que se movia junto do seu; alguns ins– tantes depois, achava-se sobre a praia e desmaiou. o que tinha acontecido? Edgard Lalle., mand, estudante em 0.ireito, com vinte annos de idade, voltando de uma reu... nião, passava pela ponte no momento em que Pedro se precipitava no Sena. Elle vinha ainda aquecido pela atmosphera das salas, mas havia um corpo, e sem duvida uma alma a salvar, por isso sem hesitar precipitou-se ao rio. Logo que tornou a si, Pedro agradeceu chorando á seu salvador. u Como, lhe di– zia elle, como vos expuzestes á morte pa– ra salvar um homem que µão conheceis~ e que se afogava voluntariamente?» - E' justamente porque vos quereis suicidar, meu amigo, respopdeu Edgard, que era preciso salvar-vos .... Vós ides perder vossa alma, desgraçado 1 Edgard procurou depressa uma car– ruagem; achou uma na porta de uma casa onde se dava um baile. Elle fez su– bir a Pedro, conduziu-o para sua casa, deu-lhe cama, e partiu, deixando-lhe seu cartão e _promettendo-lhe ir no dia se– guinte visital- o e ver se podia achar al– gum allivio ao pesar que lhe fazia dese– jar a morte. Edgard estava todo molhado e tinha necessidade de se aquecer diant~ do um bom fogo. No dia seguinte, Pedro estava doente,

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0