PORTO, Arthur. Escola brasileira: (ideias e processos de ensino). Pará: Clássica, 1923. 312 p.

:nn1111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111t111111111n1111111111ui1111111: )~ 1 MPRENSA ESCOLA R ~* 275 =IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIUIIIIII.IIIIIIIIRIIIIIIIII= uma sensação indefinida ao estralejar das folhas seCCl'\S que– bradas pelos seus pés. Certa manhã, todo satisfeito, fôra Roberto dar o cos- . tuinado passeio. Tomara a estrada á esquerda, que ainda não conhecia. O orvalho perolava as folhas verdes e, ao calor do sol que fulgia vagarosamente, rolava, cahia como uma chuva de gottas d'ouro. Rufiando violentamente as azas, assustara-o um inambú que, áquella hora, dormia. Ao longe avistara uma clareira. Para lá se encaminhou. Era o roça– do do Francisco, um pobre cearense que viera, acossado' p~la secca, entre lagrimas e saudades, deixando o sertão onde nascêra e onde tantas vezes vaquejara, ao sol ou á sombra dos grandes cajueiros, procurar nas terras fartas e exuberes da Amazonia, a sua sorte e a sua vida. Francisco estava sentado numa arvore cahida, tostada pelo fogo, tendo a enxada ao lado, triste e pensativo, com o olhar no chão e o cigarro nos labios. · · -Eh! Francisco, que é que tens homem ? Bom dia! -Bom dia, ((seu» Roberto. Então, por aqui! ... Ah-! «seu» Roberto. A minha vida é triste como o arrulho da jurity. -Saudades do teu sertão, das noites clarás de luar, do desafio á viola sob os olhares quentes das morenas ! Eu bem sei o que é isso ... -Sim, ((seu» Roberto, sàúdades do meu velho sertão. Mas ha uma cousa que me arrasa mais, mais me preoccupa e que eu não posso remediar. · -Que é então ? -E' eu não ter tido instrucção; não saber ler nem es- crever. O homem que não aprende é como · aquella pedra que <<seu>> Roberto vê acolá !. : . . '· -Mas, Francisco, não te lastimes. V:ives em. contact? com a natureza, sentes palpitar-lhe o coração. Sentes o chei– ro forte da terra, da terra virgem que tu possues e gosas. Tu· lês no grande livro dessa mãe commum. Entendes o •queixume da rôla, o bramir da onça, o reboar do trovão, o . clangor da tempestade. . -Mas «seu» Roberto, eu sei que vejo tudo isso que me cerca; vejo, apalpo, sinto. Mas não comprehendo. Eu só me distingo da pedra, porque sinto, das arvores p.orque ando, - dos ani,maes, .porque eu tenho saudades ... E' .por isso, ((seu» Roberto, que sou infeliz. De tudo que me cerca eu quasi nadá sei! · - Tens razão. Todos os phenomenos que se dão em re– dor çle nós têin a sua explicação, são regidos por determi– nadas leis ... •

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0