AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.
98 :ÉPOCAS DE P.ORTUGAL ECONóMICO Conselho Ultramarino apoiou a reclamação (1}. Sem dú– vida que grande parte dos acidentes no mar seriam devi– dos a inexperiência dos comandantes, de quem a origem fidalga não supria•o indispensável treino profissional. Além dos postos navais, e de entrarem como arma– dores no tráfico, não desdenhavam os fidalgos os ganhos do comércio por conta própria no Oriente, para onde, de sociedade com a coroa, mandavam pacotilhas. Assim vemos, pelas contas da Casa da fndia, relativas à frota de I 508, do capitão Jorge de Aguiar, que nela car– regara·m mercadorias para especulação o barão de Alvito, o conde de Penela, o almirante D. Vasco e outros, sendo a maior soma de Afonso de Albuquerque, interes– sado em I :092.000 reais. Na armada do ano seguinte, do marechal D. Fernando Coutinho, também o conde de Penela, D. Martinho de Castelo Branco, vedor da Fazenda, Diogo Lopes de Sequeira, e alguns mais: prin– cipal destes especuladores o capitão-m'or, cuja carga im– port?va em 2: I 38.667 reais. Todos os quais embarques eram a partido de metade com a Fazenda Real (2). Estes factos não constituíam novidade, e desde muito que sujeitos da estirpe nobre, a começar pelo rei, pessoalmente desfrutavam os proventos do comércio marÍtimo. Por aí se vê qual o carácter verdadeiro da empresa, com que, (1) Consulta de 25 de Março de 1648. Entre outras coisas diz: «Os homens nobres que serviram nas armadas hão-de ter sentimento de perderem os lugares de capitães das naus, com que eram premiados de seus serviços, e sobre tudo para reparar em serem os mestres e pilotos capitães das naus, considerando que à ida e à vinda hão-de vir fidalgos e homens nobres e de muita consideração, e que não é justo que estes venham à obediência de um homem do mar». Bibl. Nac., secção ultra– marina, Liv. 2 .º de consultas mistas. (2) Carta de quitação do tesoureiro Rui de Castanheda. Arq. Hist. Port. , t. 5.º, p. 322 .
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