AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.

74 :ÉPOCAS DE PORTUGAL ECONóMICO onde os não houvesse. Aos olhos do forasteiro, a cidade oferecia o aspecto, que têm para os nossos de hoje, as povoações ultramarinas, onde entre os brancos abunda a gente de c;:or. Essa foi a impressão de Clenardo, que o enganou. Gradualmente, a introdução de escravos no Pa-ís se fora tornando necessidade. Com ela se preenchia o vácuo no trabalho, originado da aventura guerreira. A ·reexpor– tação, na maior parte para Castela, negócio lucrativo, fazia-se em detrimento da agricultura, que carecia de braços havia gerações. No reinado de Afonso V, repre– sentaram os povos em Cortes, pedindo se proibisse a saída- de escravos para terras estranhas. O rei, interessado pessoalmente no comércio, não anuiu à súplica. Quantos mais fossem os negros vendidos a estrangeiros, tanto mais enriquecia o reino, pelo melhor preço obtido. Era isso justamente o que movia a protestos no interior. Para, de certo modo, aquietá-los, determinou que os escravos da Guiné haviam de vir toêlos ao reino, e que, mediante licença, podiam então ser levados para fora. A desobe-:– diência importava em perda dos escravos, e qualquer outra pena- que aprouvesse ao soberano decretar (1). Destarte se preparavam as vias ao futuro tráfico, em que participaram quase todas as nações da Europa, e tiveram I parte consp1cua os portugueses. Descoberta a Atnérica, não tardou adoptar-se a prátic_a de substituir pelos negros de África os indígenas exter– minados. Sevilha, sede do comércio das índias, era naturalmente a do trato dos escravos . Grandes interesses proporcionava aos mercadores da terra o comprar negros (1) Cortes de 1472-73. Gama Barros, 4.º, 384.

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