AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.
70 bPOCAS DE PORTUGAL ECONóMICO Repetida a expedição com êxito favorável, os cativos. foram levados a· Lisboa, onde o povo, ao vê-los passar em cordas pelas ruas, patenteava o seu júbilo, louvando as grandes virtudes do Infante (1). Ele tinha , na- ver– dade, com esta forma de empreendimentos, facultado à nação uma fonte de lucros, que ia ser largamente explorada. Injusta e bárbara, quem dirá o contrário? Mas nem a D. Henrique, nem a nossos antepassados cabe por isso infâmia. A escravidão é de todos os tempos, e existiu na origem de todas as sociedades. Não prescindiram dela as civilizações que mais admiramos da antiguidade. A Idade-Média a conservou, e as nações modernas. pode-se dizer que só ontem a baniram, continuando-a todavia, com disfarçado nome e formas, no interior sel– vagem dos continentes, e nas ilhas longínquas do hemis– fério Sul; em toda a parte onde ~ilizado, por desdita sua, se aproxima do branco exterminador! O pretexto– de agora é a civilização, como a· salvação das almas fora, na era henriquina, o dos portugueses. Com ele por espaço de séculos se aquietaram as consciências timoratas, logrando acomodar em um mesmo estado cobiça e sen– timento religioso. Antes de inventados os pretextos o, direito do mais forte, de que ninguém duvidava, era razão suficiente. (, Interrompida a relação de Zurara em r 448, só temos. informações relativas à escravatura dó tempo de D. João II~ em que, de 1-486 a 93, entraram da Guiné 3.589 escra– vos da coroa; depois algumas do reinado de D . Manuel , quais se apuram das contas prestadas por funcionário,s, (1) Id., cap. 36.º.
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