AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.

JORNADA DE AFRICA 63 trava o Rei, de fazer a Deus serviço recomendável levantando igrejas em terras dos mouros, opuseram que não menos louvável seria reparar as muitas que no reino se encontrava_m em ruínas .(1). Razões judiciosas, mas sobre as quais prevaleceu a vontade do Réi, contrária. Por efeito dela Portugal pa·ssou ·a ser uma nação de marítimos, desarraigada do solo, e a derramar a popula– ção escassa por variadas terras, cada vez mais longe, pelo mundo fora. A transformação dos objectivos nacionais . tinha de reflectir no sentimento individual, e o povo, desviado dos hábitos hereditários, que o prendiam à terra, adquiriu a índole a·ventureira, cosmopolita, disposta aos riscos pelo imediato lucro, de preferênc_ia à obstinação no trabalho, de lento mas seguro resultado. · Diga-se todavia que D. João I foi impelido pelas cir– cunstâncias a dar esta nova directriz aos destinos da pátria. Zurara, quase contemporâneo, pois escreveu trinta e quatro anos mais tarde, e ouviu notÍcias da jornada de Ceuta· aos infantes D. Henrique e D. Pedro, certa– mente exprime a opinião admitida, quando, por ficção literária, faz dizer o Rei os motivos da resolução. O ardor pugnaz dos fidalgos e homens de guerra, ou se havia de manifestar em distúrbios no interior, ou levá-los-ia a pratica•rem depredações na fronteira, pondo em risco a paz com Castela. De modo que só por isso valiam muito a pena o trabalho e a despesa, embora não houvesse outro proveito da jornada (2) . . Despido o testemunho do escritor da sua pompa literária - «travarão arruídos e contendas entre si, como (1) Zurara, cap. 98.º. (2) Zurara, cap. 14.º.

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