AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.

412 fPOCAS DE PORTUGAL ECONÓMICO Por inúteis que tais providências se manifestassem na prática, correspoµdiam ao sentimento da época, que as não dispensava. Este sentimento não se dissipara ainda no fim do seguinte século, embora dos factos se pudesse -coligir a vaidade do sistema. Em pleno regime do colher– .tismo, proibidos os panos estrangeiros, o legislador re– conhecia que os nacionais eram - «mal obrados e falsi– ficados, assim na conta dos fios como na impropriedade .das tintas» (1). Para obstar a isso, e porque, dizia, tinha .defendido o uso dos panos de fora do país, intervinha recomendando a aplicação severa do regimento de D. Se– .bastião, e agregando-lhe onze artigos novos, para ocorrer .a pontos não previstos nele. Neste tempo já a produção se concentrava em fábri– .cas, no sentido que damos à palavra, embora de màdestas – proporções; e daí provinham novas fraudes. Assim mui– .tas vezes os panos eram tosados somente na parte externa ,da peça, que servia de invólucro, deixando por tosar o interior. No engano das medições exaradas nos rótulos, nem é preciso falar. E, ao desdobrarem as peças, não raro encontravam os compradores nódoas de sujidade no pano, farpas e até buracos. A semelhantes factos preten– ,.diam pôr cobro os artigos ·acrescentados à lei. Decorridos setenta anos de quando se ampliara· o lfegimento, não tinham· mudado ainda, no tocante às fraudes, as condições da indústria. Então, já as artes do e ngano, em progresso, se exerciam antes de principiar a .manufactura: A lei nova, que Pombal decretou sobre os panos, revela-nos que a matéria-prima vinha falsificada (1) Regimento de 7 de Janeiro de 1690. Sisiema ou colecção dos :regimentos reais, t . 2 . 0 •

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