AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.

NO SIGNO DE METHUEN 401 Fora de Portugal atribuía-se também o triunfo, não sem malícia•, à dialéctica de Methuen, que soubera apro– veitar de ~odo hábil a vaidade nacional. Ideia extrava– gante, dissera ele, era a de pretenderem os portugues·es, 1 ambiciosos de glória , conquistadores do mundo, ocupar- \ -se de comércio e de indústrias. Possuindo uma terra 1 favorecida da natureza e um doce clima, isso lhes permi– tia viverem ao sol, consagrados à lavoura e à navegação. Deixassem as manufacturas aos ingleses que um clima , f frio e húmido obrigava a passarem debaixo de tecto a l maior parte do ano. Na permuta dos produtos consiste ' a riqueza das nações. Vistam-se os portugueses das lãs ( de Inglaterra, enquanto os ingleses bebem os vinhos de Portugal (1) • Ninguém dirá que, pronunciado ou inventado o dis– curso, ao autor era estranha a psicologia da, nação. Os por- tugueses passa:vam no estrangeiro por presunçosos e in– clinados à boa vida. Como tais os descreve a instrução do ministério francês ao embaixador, abade de Mornay, .em 17 1 4 (2). Methuen, que não terá proferido o dis– curso satírico, conhecia os fracos da índole portuguesa, . e c~ta:mente os soube aproveitar discutindo o tratado. . Decorridos setenta anos, 0 autor do livro imortal sobre a Riqueza das nações, sustentava ter redundado esta que chamavam obra-prima de astúcia comercial em posi- fora agradecer._ Das contas prestadas ao Parlamento constava ter o nego– .ciador dispend1do na vinda a Portugal 44 mil moedas de oiro, além I hs jóias que. trouxera. Os presentes monta·vam a 216 mil cruzados. Em turlo isto é evidente a parte de desconfiança e invenção malévola; com algum fundo de verdade, todavia, de onde os boatos procedessem. · (1) Dupeyron, Hist. des négociation.s commerciales et maritimes de /a France, c1t., Schorer, p. 6z 4 . (2) Recuei/ des instructions, P· 255.

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