AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.

IDADE DE OIRO E DIAMANTES 323 Em 1706, o governador do Brasil, D. Rodrigo da Costa, de retorno à Europa, representava caminhar o Es~do para a ruína total, por faltarem os escravos, todos vendidos para as minas, mal chegavam aos portos. De facto toda a agricultura e indústria, toda a produção do país dependia- do braço do~ negros. Da metrópole iam para O Brasil governadores, funcionários, magistrados, soldados, negociantes, os quais todos indirectamente .subsistiam da terra e do engenho. Afora isso algum raro artÍfice, que em breve mudava de profissão, passando na primeira oportunidade, como ainda h~je, ao comércio, .ou então à pequena lavoura; e os casais de povoadores, mandados em turmas, geralmente das Ilhas, aos quais se distribuíam terras, em pequenos lotes, que vinham tam– bém lavrar com o auxílio dos negros. Estes eram, por assim dizer, o esqueleto do corpo social, que sem ele não poderia subsistir. O sistema, e o modo de o considera•r, durou até se abolir definitivamente, em 1 889, a escra– vidão. Quando Pombal decretou, em 1761, a liberdade dos escravos que de futuro desembarcassem no reino, não 0 movia impulso humanitário, nem o intuito de limpar a metrópole da, mácula da escravatura; mas, consoante o I texto da lei, o propósito de impedir que as colónias, prin– cipalmente o Brasil, fossem desfalcadas de braços neces– sários ao trabalho (1). De .parecer igual, o governador da Bahía, D. Rodrigo da Costa, condenava• a saída dos negros dos engenhos para as minas, e propunha se proi- (1) Alvará d~ 19 de Setembro de 1761: «... fazendo nos meus domínios ulrramannos uma sensível falta para a cultura das terras e d,1s minas, e só vêm a este continente oéUpar os lugares de moços de servir, que ficando sem cómodo se entregam à ociosidade».

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