AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.

258 f POCAS DE PORTUGAL ECONóMICO para trabalhar no açúcar. - «Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho» -, escrevia um autor experiente na matéria (1). Da costa da Mina, de Cabo Verde e S. Tomé, do Congo, de Angola e até de Moçambique, levados pelas naus da fndia, _iam os tra– balhadores para a indústria. A faina era dura, o trato bárbaro, e as mortes, daí provenientes, obrigavam a reno– var com frequência o pessoal. Era comum ver os negros, amarrados por correntes de ferro a um cepo, a trabalha– rem junto das caldeiras. Se remissos na tarefa, estimula– va-se-lhes o ardor a golpes de azorrague. Castigo fre– quente, a_limento parco e vestido sumário - «três PP: pau, pão e pano» - tal era a receita para lidar com negros (2); o pau em primeiro lugar. Muitos evadiam-se \ ao martírio pelo suicídio. Houve senhor que lançou algum na caldeira fervente , ou o fez passar na moenda, esma- 1 gado, por vingança ou ca:stigo. Para um dos_ grandes engenhos eram precisos de 1 50 a 2 oo negros, empregados nos canaviais , corte das lenhas para fornalha, transportes e labutação da fábrica. Muitos lavradores, sem engenho próprio, cultivavam a cana em terras suas ou arrendadas, e a mandavam depois à fábrica, onde ficava a metade do produto pela elabora– ção, e mais uma percentagem, às vezes considerável, quando as terras pertenciam ao engenho ( 8 ). Também estes tinham de possuir escravos, porque os brancos não se expunham às fadigas da lavoura, e assalariados indí– genas não lhes era fácil obterem.. - (1) Antonil, Liv. 1.º, Cap. 9.º. (2) I-bid. (3) Antonil, Liv. 3.º, Cap. 7.º - «Em Pernambuco paga quinto, e na Bahía vintena ou quindena». ' '

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