AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.

O PRIMEIRO CICLO DO OIRO 197 Em 1601, o vice-rei Aires de Saldanha foi solicitado a pronunciar-se acerca da possibilidade da conquista (1). Sete anos passados, no-de 1608, a resolução está assente, e o Conde da Feira, nomeado para o governo da índia, recebe nas suas instruções a de aportar a Moçambique, e enviar de lá uma expedição a tomar posse das terras cobiçadas, ordem que afinal não executou. Entretanto outra riqueza mineral substitui nas ima– ginações por algum tempo a sedução do oiro. No correr de 1607, Diogo Simões Madeira, mercador na região de Cuama, tinha ido com gente sua, negros serviçais e alguns portugueses, em socorro do Monomotapa, amea– çado por sobas rivais, e obtivera dele, em recompensa, doação de todas as minas, de qualquer qualidade, exis– tentes em seus domínios, a favor do rei de Portugal. Para tornar solene a concessão, lavrou-se escritura com -as formalidades da lei portuguesa, assinando de cruz o régulo. Que valor podiam ter para o bárbaro, no fundo da sua consciência obscura, a·s palavras do escrito e o sinal que apusera, será para sempre mistério. Sem dúvida que o propósito de iludir as promessas orais se lhe formou desde logo (2). Da exploração das minas de oiro era já perdido o i ntento, pela experiência infeliz. Relativamente às de prata çontavam-se maravilhas. De um só fragmento man– dado ao rei por amostra, cuida-vam na terra se poderiam tirar 70 marcos de prata fina. Já vimos falar-se também na montanha de metal puro. Sabido em Goa o sucedido ,com Diogo Simões Madeira , mandou o governador inte- (1) 2 5 Janeiro 1601. Museu Britânico, Col. cit. (2) Escritura transcrita por Bocarro, cap. 127.º.

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