AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.

A 1NDIA E O CICLO DA PIMENTA 161 poucos se lembravam do proveito do rei , e - «seja bem ganhado ou furtado todos tiram para si» (1). O contrabando da especiaria praticava-se em toda a parte, e aqueles mesmos que tinham por missão impedi-lo o faziam em seu proveito directo, ou, peitados , deixavam que outros o fizessem. No reinado de D. Jbão III, chegou ao cúmulo o despejo, . e a pimenta passava a Constan– tinopla e Veneza, sem embargo das armadas no estreito, e da vigilância em Ormuz. - «Não deixem passar a pimenta e drogas (mandava dizer o rei a D. João de Castro), porque sou informado que os mesmos que as hão-de guardar e vigiar são os que as passam» (2). Os governadores e capitães das fortalezas vendiam licenças para o escondido tráfico pelo Mar Roxo. Por este modo se frustrava· a polfrica, qu·e determinara a empresa da índia para o monopólio da especiaria na Europa. Se na viagem clandes tina algum empeno surgia, a vÍtima era sempre o mercador, nunca o funcionário corrupto. O caso do mouro Cotiale, referido por Gaspar Correia , é tÍpico. Devia aquele pas,.sar duas naus carregadas para Meca; três quartas partes da fazenda por conta de Diogo Lopes de Sequeira, governador, e António de Brito,' capitão de uma frota ; o quarto restante era do mouro, que adiantou o dinheiro para todo o carregamento. Tinha António de Brito muitos inimigos , e o clamor deles forçou o gover– nador a intervir. Resultado: os navios foram apreendidos , tendo Lopes de Sequeira o seu quinhão na presa, como lhe competia; António de Brito, submetido a julgamento, (1) Idem, P· 37 2 • (2) Cit. por Costa Lobo, M emórias de um soldado da fndia, P· 34º· II

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