AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.
158 f POCAS DE PORTUGAL ECONóMICO no hospital; a outros, as doenças que adquiriam, os desre– gramentos em clima inóspito, lá os levavam depois, e mais do que as guerras eram causa d0$ óbitos. Na verdade não eram muitos deles a flor da população do reino: - «Adúlteros, 1?alsins, alcoviteiros, ladrões de noite, h·omens que acutilam e matam por dinheiro, e outros de semelhante raça» - conta um que foi igualmente sol– dado (1). Ainda esses eram os menos de lastimar, porque de suas malas-artes , a bem ou à força, iam granjeando a vida , e muitas vezes alcançavam protectores . .Não assim os bisonhos, prisioneiros da virtude, que_padeciam misé– rias. A paga era impontual e escassa. Armavam-se à sua custa e na hora do alardo cada um se apresentava com o que seus meios lhe consentiam: qual espada e rodela, qual sàmente uma alabarda; poucos uma arma de fogo; e deste modo seguiam nas frotas, para a pilhagem e para a guerra·, como parceiros de bandos armados, e não praças de milí– cia, providas de instrução e disciplina. De inverno, como se interrompia o serviço no mar, faltando-lhes a ração de bordo, se não podiam apegar-se ao séquito de algum fidalgo, mendigava·m. A princípio davam-lhes o sustento nesta estação os governadores, mas quando os tempos já não permitiram tanta largueza ces– sou a prática, que não era obrigação do cargo nem com– promisso do Estado. Em um documento dos Livros das Monções se alude ao caso de terem padecido muitas misérias os soldados idos do Reino em 1 6 o 5, algum dos quais morreram ao desamparo. E mandou então o governo de Madrid que os fidalgos, segundo as suas posses, ava- ' (1) Francisco Rodrigues Silveira, autor do escrito publicado por Costa Lobo com o titulo de M emórias de um soldado da índia, p. 20.
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