AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.

A 1NDIA E O CICLO DA PIMENTA 155 .,..mar, enquanto o deslumbramento, que do Oriente vinha, explica o êxodo geral. Voltando ao Tejo as naus traziam aquela multidão , de negros - negros chamavam os portugueses não somente aos africanos, mas a qualquer de raça diferente, baço de tez - etÍopes, índios, malaios, chinos e ameri– canos, cujas braços passavam a fazer na metrópole o tra– balho dos que a empresa bélica arrebatava. Substituição degradante na qualidade, e, sem embargo de copiosa, insuficiente na quantidade. Esta afluência de gente exó– tica era pasmo dos estrangeiros, que visitavam o país, e inquietava os naturais. Já, no tempo de D. João III, Garcia de Resende insinuava que algum dia viriam a ser em maior número os cativos, trazidos das outras partes do mundo, que os homens livres, filhos da terra (1). No século XVII, Manuel Severim de Faria fazia notar que para os traba1hos de lavoura havia- principalmente os escra– vos da Guiné; para serviços domésticos os cafres e índios (2). E foi necessário que a lei pombalina de I 761 declarasse forros os negros desembarcados na· metrópole, para a .importação dos escravos acabar. Nas arriscadas viagens, em que o arrojo dos marean– tes muitas vezes supria os conhecimentos, as embarca– ções mal aparelhadas, mal carregadas e mal navegadas, semeavam de destroços as plagas do índico. Assim como os Lusíadas foram a epopeia heróica, os folhetos da (1) M iscelânea: Vemos no r eino met er T antos cativos crescer E irem -se os n aturais, Que se assim for serão mais Eles que nós, a meu ver . (2) Notícias de Portgal, t. 1. 0 , p. 10 e 16, ed. de 1791.

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