AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.

154 :ÉPOCAS DE PORTUGAL ECONóMICO caluniosas, e ditadas pelo ódio e despeito das pretensões desenganadas. Mas não faltam os testemunhos autênti– cos, e todos os que, escrevendo sobre a índia, se não limi– tara:m a considerar ·unicamente o lado épico da aventura, certificam da ausência de escrúpulo dos que tinham o mando , e da corrupção geral. Quando os impolutos, como Nuno da Cunha e D. João de Castro, na hora da morte afiança·vam sua limpeza de mãos, por este modo arremessavam um labéu vergonhoso aos def!lais. · Entretanto à soldadesca, de voluntários ou à força recrutada, o que as mais vezes a aventura rendia era a miséria e a morte. Despovoavam-se os campos e pequenas terras em proveito da índia, e pela atracção de Lisboa·, metrópole onde riquezas e gentes se acumulavam. O censo a que mandou proceder D. João III em 1 527 mostra, na desproporção da quantidade de fogos ocupados por viú– vas, em relação ao total, como certas regiões do país se desfalcavam da população varonil. O mal é sobretudo evidente no Alentejo, onde as circunstâncias locais, solo inculto, latifúndios, impeliam à emigração. Ao passo que, por exemplo, em Trás-os-Montes, comarca de pequenos agricultores, o número de viúvas corresponde a· 1 5 por cento dos vizinhos, na de Entre Tejo e Guadiana, passa de 20 em quase todas as povoações principais e na vila dos Colos, do Mestrado de Santiago, chega· aos 3 I: . 42 viúvas para I 3 5 habitações (1). Não será caprichoso culpar de tanta viuvez os naufrágios e guerras de além- (1) :Évora: 2.873 fogos, 679 viúvas. Beja: 1.205 fogos, 282 viúvas.. Sines: 180 fogos, 43 viúvas. Aldegalega: 106 fogos, 29 viúvas. Em Setúbal , que tem a indústria do sal, a proporção baixa a 16 por cento; em Odemira a 18, talvez por se entregarem os moradores às pescarias. , Veja-se o censo em A'rq. Hist. Port., t. 4.º.

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