AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.
A 1NDIA E O CICLO _DA PIMENTA 121 A transição não alterou de modo visível as circuns– tâncias de apuro que eram de regra· no erário régio. D. João II, em cujo reinado já ela se tinha etrJ. parte efec– tuado, não auferiu por certo ganhos enormes no tráfico, porquanto morreu com dívidas, de que recomendou o pagamento ao sucessor. Por disposição testamentária devia este apartar das rendas do Estado quatro milhões de reais cada ano, para se amortizarem débitos, alguns ainda de D. Afonso V. Se a disposição se cumpriu não sabemos. Com dívidas igualmente morreu D. Manuel, ·que por seu turno incumbiu de as solver o herdeiro do seu _____-: grande império. E para isso o instava no testamento a vender ou empenhar, faltando outros meios, jóias, pratas, móveis ou o quer que fosse necessário, para no m?is breve prazo extinguir a obrigação. Não se podia tal cuidar em presença das naus que regressa..vam do Oriente carreg~das de ricos despojos, e ao contrastar os JJroventos fabulosos das primeiras viagens. À medida, porém, que a empresa mercantil derivou,. como era fatal, para tentativa imperialista, a situação do balanço mudou. Os gastos absorviam já a ·receita, e mais ainda; e, para ocorrer às faltas, tomava-se dinheiro a juro em Flandres, e compravam-se a crédito o cobre, os aprestas e as fazendas para o tráfego, a pagar com as sobras dos carregamentos vindouros. Tais sobras não preenchiam nunca as expectativas; entre a ida e vinda das frotas assumiam-se novos compromissos; e para cada nova expe– dição se contraíam novas dívidas. ► De ano para ano crescia o total dos adiantam<;ntos, sobr~ que, de três em três meses, nas feiras onde periodi– camente se realizavam as transacções e acertavam as con– tas, - da feira, chamada Fria, pelo Natal, à da Páscoa,
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