AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.
,. '" A fNDIA E O CICLO DA PIMENTA 119 De todos os produtos buscados, o mais abundante e de maior consumo era a pimenta. «Das cousas da fndia a em que mais se põem os olhos» , dizia no Soldado Prático ao seu interlocutor o vice-rei. «Lume dos olhos de Portugal» , lhe chamava Gaspar Correia. E na opinião comum, que por seu turno o Soldado Prático enunciava, a pimenta tinha sido ·o móvel único da descoberta. Em con– firmação disto , é significativo o que na primeira viagem se fez. Como adicional aos 2 o mil cruzados de oiro, que Vasco da-Gama recebeu em recompensa (1), - gratifica- · ção pingue de homem de negócio ao encarregado de uma operação feliz - deram-se-lhe dez quintais de pimenta, e outro tanto de cada uma das demais drogas, de que foi portador, para· repartir pelos amigos. Todas os que entra.., ram na expedição foram contemplados, segundo a catego– ria, e até os marinheiros tiveram, um por um, de cada especiaria 1 o arráteis - «para· as mulheres repartirem por suas amigas» (2). - Não se podia com mais clareza afirmar o intu· to dos que tinham planeado e executado o empreendimento. No êxito proveitoso participa·va a nação inteira. Assim se creu, 10s baixos como no cimo da escala social,- e em um sonho de riquezas fáceis e prospe– ridade n_unca vistas, dos pobres lavradores aos bem provi– dos donatários, toda a gente no país se enlevou. IV Na monarquia portuguesa o chefe J o Estado , por t circunst~ncias de ordem social e costume antigo, era (1) Representando 5.700 contos da moeda actual. (2) Lendas da índia, r. 0 , 142, 143.
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