AZEVEDO, J. Lúcio de. Épocas de Portugal económico: esboços de história. 2. ed. Lisboa, Portugal: Livraria Clássica, 1947. 478 p.

A rNDIA E . O CICLO DA PIMENTA 113 nado no documento por João Cq.rlos, mandava comprar a especiaria em Lisboa , por seu irmão Francisco Mendes , montando o valor de cada vez a 600, 800 mil, até um milhão de cruzados e mais. Outros negociantes , de menos cabedal, em Lisboa e Antuérpia, participavam na ope– ração em quotas d_e I o, I 2, 20 mil cruzados, consoante as posses. Diogo Mendes e o sócio manejavam as vendas , firmando o preço em Antuérpia, e submetendo ao seu nuto os mercadores de outras praças. Foi certamente pela intromissão dele que' as companhias de alemães perderam a situação de privilégio que tinham em Lisboa, ditando condições à Casa da fndia. Pela oportuna acção do judeu português subiam os preços, alargava~se o mercado, e os antigos contratadores , . excluídos da compra directa, tinham de adquirir os produtos em segunda mão (1). Nessa: época, e pela notÍcia do contrato, melhorava em Flandres o mercado para toda a especiaria, e os deten– tores ·esperavam realizar avultado lucro (2). O comércio da pimenta foi sempre objecto de espe~ •culação em Antuérpia, e pode-se a.firmar que o extraordi– nário desenvolvimento da cidade data de quando nela se estabeleceu a feitoria portuguesa. Isso diz o contempo– râneo Guicciardini, e o comprovam os factos. Pouco a pouco, e por efeito daquele estabelecimento, Bruges foi decaindo da supremacia anterior, e as grandes casas de (1) Carta de Rui Fernandes, feitor em Flai:dres, a D. João III, 2 3 de Janeiro de 1527: «Item que vão cá grandés invejas entre estes principais destas companhias de alemães, porque não têm parte no contrato.. . eles cuidavam que não havia ninguém para contratar senão eles; tinham rodos feito juramento entre eles de fazerem vender a V. A. às suas vontades. etc.». Arq. Hist. Po1-t., 8. 0 , 23. (2) Carta do feitor, como acima, de 6 de Janeiro de 1527. Arq. Hist. Port., 8. 0 , 22. 8 •

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