MORAIS, Raimundo. Cosmorama. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1940. 148 p.

' ,, ' '74 ·- . RAIMUNDO MORAIS pios silvestres, aguas violetas, terras azues, crepus– .culos vermelhos, madrugadas côr de rosa, meio-dias de pervinca, tardes de opala. Em vez da Angola ·batucando nas .estrofes do· lindo livro, o que se constata é a Grecia harmoniosa, antecedendo füo– ridamente o "ballet" da Moscova, adivinhando já o ·ritmo aereo que ia repontar ~o bico do :pé da ondu– lante Pavlowa. Sátiros e ninfas, no compasso artis– .tico da musica helênica, giram em torno de Eros. A sinfonia volutuosa das inenades e harnadriades, ·"ao suspirar bucólico das plantas, brandindo tirsos, coroadas de pâmpanos e rosas, resôa como um· côro litúrgico nos misterios de Eleusis." Deixo as arvores, os rios, a terra, os mocam– 'bos e mergulho naquele banho lustral de beleza que o poeta bandeirante cria para lavar as almas. "Salomé, a fascinadora Salomé, ergue o veu ·que desce até a asa recurva . da planta, e, torcico– lando na volupia das bacantes, tine as crotalias, que --resôam no eter. Herodes treme. . . A Antipas, ela .chega-se e recua. . . Ascende aos poucos e flutua, maravilhosa e semi-nua. Avança e foge, e vem e vai; ondula e ala-se, e recai em posição de quem atrai." Não ha gesto, nem forma, nem atitude, nem curva, nem ângulo, nem, reta que Martins Fontes, aturdido em delírios plásticos, não relembre na– queles versict:tlos sensuais de sua "A Dansa". A luz ,que ilumina este cenario de templo e de harem, de

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