MORAIS, Raimundo. Cosmorama. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1940. 148 p.
COSMORAMA 67 A terra, post-quatemaria, mole, empapada, porven– tura mal escapa da agua ainda para a eclosão da htz veste-se, nesses recantos, duma túnica anuviada e sombria. 1 Se o assombro de Humboldt foi grande ao ver a jangla dos nossos lindes políticos do ·ocidente, nas divisas do Amazonas com a Venezuela, qualifi– cada pelo sabio alemão de hiléa prodigiosa, avalie– mos o que seria a sua surpFeza, se ele transitasse pelo estuario do Rio-Mar e visse a flora maravi– lhosa das Ilhas de D.entro, povoadas de plantas que lembram o cosmo, ainda hostis . ao homem, fedia– das numa abóbada que elas mesmas criam e onde não penetra o sol. Alguns quadros trazidos pelo Sr. Vicente Leite refletem, pela primeira vez, no paisagismo amazô– nico, o cunho real da nossa mata-virigem. Não só refletem a natw-eza nos seus pormenores mais ru– <des, no seu remoto drama silvestre, a~cioso pela claridade, buscando a rosa do sol como quem busca alimento, mas tam'bem· remarcam o extraordinario poder visual do pintor, a sua força cromática, o seu flagran te golpe de vista. Os gigantescos troncos envoltos no cipó, na parasita e na epifita, e que lhe surgem nas telas sob atmosfera baça, valem por afirmativas da flora primitiva, alheia, sem dúvida, ao convivio do pro– prio indio. Reproduzir esses modelos numa tu,rva atmos- • 1
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