MORAIS, Raimundo. Cosmorama. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1940. 148 p.
RAIMUNDO MORAIS rebanhos em dis11>arada. São touros galopando no ceu. E' a voragem, a tormenta, a tempestade. Nem/ sinal duma estrela. Ôs pássaros fogem, os homens amedrontam-se. Dobra o carrilhão de bronze. Levanfou, porém, o tempo. A redoma azul-er– c11ra da abóbada .celeste, tauxiada de pequenos dia– mantes, mostra o cruzeiro no rumo do Sul. Ouve– -se outro sino agora. E' o sino de ferro, todo ra– chado, todo partido, de vozes roucas e confusas. · Dobrado silvestre duma catedral pagã, feita de folhas e ci,pés, ramos e ventarolas, ele ronca e pia, ameaça, pela força e pelo agouro. E' poderio autó– ctone e feitiça de pagé. Voz dos lagos, dos igapós, dos pântanos, tradut, entre a agua e o zimborio esmeraldino, a liturgia silvestre de sêres anónimos. São as velhas catedrais de clorofila, dobrando a missa verde dos devotos da mata em noites mal alumiadas. Escutam-se, entretanto, noutros quadros~ os si– nos de prata, que anunciam o plenilunio. Dobram nas prnias, rolando as ondas em anseios de amor. Assemelham-se a grades k:ara.c0is que arfassem pelo mar, no sonho de mil caricias. Recordam ca– pulhos de vaga, indo e vindo ao ritmo de quem Fessona abraçado a ninfas e quiméras. E' o mar ql!le dorme. São os rios que sonllam. E' a agua que beija a ter,ra ao som argênteo dos sinos brancos. Mundo de surpresas a- Amazônia! A agaa, plástica e multiforme, é a propria gleba, seiva da
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