MORAIS, Raimundo. Cosmorama. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1940. 148 p.

., ·- 52 RAIMU?:lDO MORAIS A metamorfose de cada beiço do barranco, como .a geografia morta duma zona telúrica que se. apaga da carta, grita, soluça, geme na transfigura– ção que se opéra. A natureza, ao extinguir o velho lance topo– gráfico, estremece na dôr q4.e lhe mocÍifüca os pai– neis. Ao flanco desse espadanàr mais violento, que o relógio litoraneo assinala nos baques da "terra caída" outros ponteiros centrais, meio mudos e . , secretos, vã~ assinalando as mutaç~es ·dos pántanos para as varzeas, das varzeas para os "firmes", dos "firmes" pará as coHnas, das colinas para as ser– ras, das serras para as cadeias de montanhas. Cada modificação, quasi de• aspecto cósmico, nos refolhos do Genesis, guarda um sentido prima– rio e tumulruoso, 'só visível já ~a terra pamlpeana da Amazonia, que talvez seja o último abrigo ào cáos. E' o ventre da mater~dolorosa que se vai f e– chando após as derradeiras eclosões telúricas. , Mas, além do relógio aquático, assinalante do tempo, dos fenomenos fixos e das irregularidades . meteorológicas, há os sinos, ltambem aquáticos. Grandes uns, anunciando cousas atlânticas, peque– ninos outros, anunciando cousas fluviais, eles são tangidos por forças enigmáticas que ptecedetn a vida e a morte. Muito mais assustadores que o relógio, porque tocam sem t~bela, sem programa, sem aviso, o si– neiro desses canilhões é um fantasma, que ora

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