MORAIS, Raimundo. Cosmorama. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1940. 148 p.
18 RAIMUNDO MORAIS ·a pé e descalços, vestidos com rou~ velhas, e os fiéis de automoveis na colada religiosa da imagem. No trajéto alguns romeiros vão "golando", vão bebendo agua que passarinho não bebe, vão enfim se emborrachando, de maneira a terminar a devoção no xadrez, em vez de na Basílica, como pretendiam. Finda a festa, que leva quinze noites, há o recirio~ isto é, a volta da santa da Basilica para o seu paramentado nich9 no Instituto Gentil Bittencourt. O retôrno é matinal e rodeado pela . gente católica, muito desfalcada em comparação à do antecirio, tambem chamado trasladação, pois milhares de romeiros já se foram rumo das suas cidades e vilorios do interior. A singularidade desta santa popularíssima con– siste em não habitar a igreja da qual é padroeira. Em cada ano passa na Basílica de Nazaré apenas os quinze dias em que é celebrada pelos fiéis. Con– cluida a f esja, a milagrosa divindade volta ao seu nicho solitario, no colégio de meninas Instituto Gentil Bittencourt, ' onde é adorada silenciosamente pelas freiras que dirigem o estabelecimento e pelas donzelas. ricas e pobres, que .ali se educam. Nião conheço no Brasil uma cerimonia cató– lica que abale tanto a alma do povo como esta, tal o prodigio milagroso da Virgem de Nazaré. No dia do círio só ficam em casa os doentes e os in– válidos; o resto vai ver, ou, pelo menos, espiar a passagem da formidavel procissão, misto de fé li-
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