MORAIS, Raimundo. Cosmorama. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1940. 148 p.

146 RAIMUNDO' MORAIS missão, não estrofa uma canção. Seus versos brancos, sem rimas, equivalem às dum poeta sem poemas, às dum trovador sem uma trova. às dum citaredo sem citara, ,às dum lírico sem lira alguma. E se o nosso verbo é assim, alheio ao rimance e ao vilancete, à redondilha e à xá– cara, ao soneto e à sextilha, a música orquestra– da por nós tambem o é. Nossa frauta é de ve– ludo e de algodão nosso viola; nosso cavaquinho é de chita e de setim o violão. O som de uma é algo m?do, tratamudo, mudo mesmo; o som de outra não tem éco sinfonia ou vibração. Nin– guem lhes ouve as harmonias, seja fauno ou se– ja ninfa, tão abafadas elas são. Catarina minha esposa, Virginia minha neta, sentido· com estas cantigas inocentes baladas em prosa, escritas em folhas de rosa, que se apagam expostas ao tem– po e murcham aos raios de sol. Guardem os marroquins e as peles em que elas se envolvem. Tambem guardem os instrumentos da orquestra que ninguem ouve. Nós te reverenciamos, ó es– sencia magnânima, no cantar desta canção. Tua fronde empoeirada na luz reflete e tra– duz, a cabeleira mitológica duma deusa, feita de beleza, nos braços de Júpiter ou no colo de Apolo. A' noite quem te beija é Pan no seu manto de estrelas . Esse beijo é oblata de quem adora e vig ia seu amor no afã de apaixonado. Teu fuste , reto e alto, liso e torneado como :t

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