MORAIS, Raimundo. Cosmorama. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1940. 148 p.

144 RAIMUNDO MORAIS dama, coração de mãe silvestre, recebe e guarda o canto agreste do cantor desta canção .. Castanheir,_ aberta em flôr, amanhã cheia de ouriço, ouve o cantar deste cantor que não passa dum noviço. Cantiga de namorado, ela é vento parado pela emoção que a reves te , e tam– bem brisa contida pelos zéfiros do enleio que a tornam corda partida dum relogio encantado. Ponteiros que não se mexem, marcam sempre o mesmo .tempo enquanto teus frutos não caem. A taça verde que empunhas para o orvalho re– ceber, tem no fundo mil caricias e n as bordas mil blandicias. Tuas raízes são grossas bombas, penetrantes como trombas lá no âmago da terra. Por elas alça-se o sangue nutritivo dessa deusa que o distribue, já no alvor do teu leite, aos fa– mintos do momento que mal vencem o sofrimen– to. Catarina niinha esposa, Virgínia minha neta, tragam-me o arco e a frecha para quebrar o con– dão duma secreta ilusão. Vou atirar por uma brecha na caix inha de Pandora, t ão farta de vit – tudes quanto farta de maldades. Se a seta lhe acertar vôa tudo pelo ar, vendo-se então clara– mente se esse mistério pode ou não, ser tambern levado a serio. Cas tanheira magnânima, afeita sempre ao perdão, recebe o manso cantar <lo cantor desta canção. Castanheira do Pará! Bertholletia excelsa da Amazônia! Tuas nozes, parecidas à lua em

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