MORAIS, Raimundo. Cosmorama. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1940. 148 p.

C O S M O R A M A 13 í /\~r :{:\ 1 ~ 1 r, l \ \ ., \ .. , Quanto ao mito do fogo, na aparencia impossi- ' ::.,~;; vel numa pfaga cheia dágua, quasi lacustre, húmida . por natureza, como é a do Marajó, basta se dizer que há anos de verão duro, de seca tão impérvia, ,,·1·• . que a ilha, principalmente na banda campesina do N~ • ''. levante, recorda o sertão adusto do nordeste nas ~ y éras em que o fogo do sol o exsica. O solo combu- - rido mata o capim. Surgem as ipueiras assinalantes de pégadas, rastos, carimbos vivos das passagens de rêses e vaqueiros: Incendeiam-se os pastos. Un1 sôpro quente de borra.lho varre · a humidade. N/ão fôra a ventania. furiosa dos a.lisios, asso– biando nos campos tisnados de carvão, e a vida nas fazendas se tornaria impossivel. Os lagos se- · cam. O peixe morre. O couro elas selas parece pau. As grandes canôas geleiras que penetravam de pano· aberto o rio Ararí até o lago do mesmo nome, es– barram no leito do caudal sem poder subir. O fato, que aliás, só ocorre em certos e deter– minados anos, aviva a tradição do incendio univer– sal. E o mito, rememorado nesse panorama sinistro de fumaça e bocorno, ganha fóros de ciclacie, acen– tua-se nos serões domésticos, r vive na braza do cigarro de tauarí dos tucháuas e pagés contando o que foi o devast~dor incendio. E os dois mitos, cor– porificados na água e no fogo marajoáras, proje– tam-se na historia paraense.

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