MORAIS, Raimundo. Cosmorama. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1940. 148 p.
136 RAIMUNDO MORAIS com o inverno na baixada, lembram, pelas embarca– ções amarradas aos telhados das casas, a memora– vel arca de Noé.. As varzeas, os campos, os tesos ficam inundados. O gado aflito é posto em marom– bas, grandes giraus de madeira armados sobre es– peques. As rêses passam aí tempos comendo uma fraca ração de canarana que lhe trazem os vaquei- , ros nas ligeiras e rasas montarias. Forte porcenta– gem dos rebanhos definha e morre. O vasto lençol dágua, à semelhança memoravel dos dias de Noé, avassala tudo, cobre a terra como no ciclo bíblico. Não admira, pois, que o mito diluviano, tra– zido de pontos do orbe onde porventura ocorrera, tivessem aqui mil versões, repontando em Marajó, do cenario geognóstico, com as côres flagrantes. Além dos aruacs, rara é a tribu selvagem que não– conte o fato nas horas graves. E ' passivei, portanto, que o fenômeno hidrográfico, 'Visto cada ano, e ainda mais apoiado na tradi ção imemorial das cabil– OdS, houvesse levado Agassiz ao sonho do período glacial no Equador, sonho hoje desmentido cientifi– camente pelos geólogos. Nas narati vas indi gerias conta-se, por inúme– ras formas, a maneira por que se povoou o mundo depois. Nalguns desses mitos diluvianos apenas um homem e um bicho-mulher se salvaram, quando não foram uma cunhá e um bicho-homem os escapos.. Daí o povoamento da gleba dentro dos mais pito-· r escos incidentes.
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