MORAIS, Raimundo. Cosmorama. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1940. 148 p.

RAIMUNDO MORAIS mesmo, com certa ponta de reali$mo, como si o de- · monio? dando ao rabo, desviasse do culto os devo– tos. Peregrinam, então, os fiéis pelos cinemas e tea– tr~nhós•-a ver as novidades apregoadas na imprensa em letras garrafais. Para isso vêm do Rio os mais célebres mamberrrbes, tidos por famosas compa- ·nhias, maravilhas de palco. Além do mais, acodem os atletas, os ginástas, os pres ·digitadores, as baila– rinas, os ventríloquos, fóra os homens que engo– lem fogo, que comem espadas, que se deitam· sobre gumes de navalha, que adivinham o pensamento, alheio e viram ponta de cigarro ante a platéia bo– quiaberta. As familias tudo frequentam. Como cer– tas revistas do ano passado se 'mostrassem muito frescamente vestidas na roupa e na fala, a policia nomeou um grupo austero de pessôas incumbidas. de aparar as asas à licenciosidade. Essa nobre comissão, cçm o sentido muito finc da obscenidade, baixou a saia às atrizes e aumen– tou a tanga aos atores. E quanto a ditérios €J.U6 cheirassem _a Bocage, nem uma virgula... O que era. "salgado" ficou "salôbr~", o que era "salôbre" ficou "ensosso". Os empresarios gritaram, os fre– quentadores murmur~ram ... - "Nem vale a pena, diziam os romeiros; está. tudo sem graça". A graça, como se vê, seriam as frases cabeludas, o palavreado frascario, como nas comédias de Aristófanes. "Pois é isto, comadre, 1

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