MORAIS, Raimundo. Cosmorama. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1940. 148 p.

130 RAIMUN:qo MORAIS ções. Balanceiem-se ainda certos arcaismos, varridos– hoje do falar lisboeta e conservados estacionaria– mente nos nossos sertões,_e teremos o fato concreto em todos os seus aspectos. Peço licença nesta altura para referir um caso de arcaismo por mim observado a bordo, entre lé– vas de nordestinos flagelados, ao i::umo do Purús. Trata-se da palavra místico, no sentido do vizinho. "Sou místico de Fulano. Beltrana era mística de Sicrana". V,erifiquei depois que o vocabulo já fôra remotamente correntio em Portugal com essa defi– nição, até agora usada pelo sertanejo brasileiro. Pa-· trulhe-se o nosso país dos mais austeros filólogos, sempre com a férula vernácula na mão, e jámais– se conseguiria impedir a tendencia da lingua para uma evolução separatista. E ' natural que a linha mestra do idioma seja invariavelmente inapagavel, e que se reconheça, de futuro , por um grande nú– mero de expressões, que o Iinguajar brasil eiro as– senta no por tuguês, mas que os dois idiomas vão– cada vez mais se di stanciando um cio outro, é um. fato igual ao do tupi A ' proporção que as tribus· sul-americanas se esfacelavam em malocas, em– clans e mesmo em pequenos grupos, criavam-se curi osas e pitorescas modalidades Iingui sticas, di ale– tos, modi smos. Apesar todavia dessa muJtidão de vozes, todas. eram mais ou menos compreendidas pelos que sa– biam e sabem o idioma amerinclio. Há quem se mos-·

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